Repórter acompanha expedição para um dos Estados que terá representantes no Festival de Tiradentes

LUIZA FECAROTTA
ENVIADA ESPECIAL AO AMAZONAS

Jamais teria colocado aquele pedaço de erva na boca se seu Raimundo não tivesse dito “pode comer, pode comer”, com as mãos estendidas, os dedos segurando a folha verde que acabara de colher no sítio em que cultiva orgânicos, próximo a Manaus.

Urtiga é aquela planta de pelos pungentes, que irritam a pele. “Se você virar a folha assim”, e mostra como fazer, “não irrita a boca”, diz.

Raimundo Moura, 56, foi o primeiro personagem encontrado por uma equipe de expedição gastronômica realizada em março, cujo ponto de partida foi a zona rural de Manaus. Por sete dias, aFolha acompanhou o grupo – formado por um chef de cozinha, uma produtora, um fotógrafo e um cinegrafista- que seguiu viagem por avião, barco, mototáxi e voadeira pelo interior da Amazônia.

A viagem é parte do projeto de resgate e valorização de produtores regionais e ingredientes brasileiros concebida pelo Festival de Cultura e Gastronomia de Tiradentes. Outros cinco Estados serão visitados.

No roteiro constam ainda as lagostas do alto-mar, no Ceará; os queijos de leite cru, em Minas Gerais; as rapaduras e a manteiga de garrafa de Pernambuco; a carne de sol do Rio Grande do Norte.

Na viagem do Amazonas, ingredientes, cenários e figuras inusitadas, pouco ou nada conhecidas, surgiram -farinhas, peixes de rio, formigas, criadores de abelhas nativas, jambu, feira das bananas, índios, ribeirinhos…

O material da viagem (fotos, vídeos) dará forma a um livro e a um documentário que serão lançados em agosto, na 15ª edição do festival.


Tucumã

Um dos frutos mais populares da Amazônia; arredondado, de casca dura e polpa carnuda, ele é levemente doce

Chicória

Planta arbustiva, a chicória tem sabor marcante, com certo amargor; é consumida crua ou cozida

Tucupi

O suco extraído da mandioca-brava é vendido puro ou temperado com pimenta-de-cheiro, e faz base para pratos como o tacacá e o pato no tucupi

Pirarucu

Típico da bacia Amazônica, esse peixe avermelhado é considerado o maior de escama de água doce do mundo -pode pesar até 200 kg e alcançar três metros de comprimento

Farinha d’água

Descascada e ralada, a mandioca-brava descansa em água; em seguida, é misturada à mandioca ralada fresca e colocada para secar no tacho (em fogo a lenha)

Farinha de uarini

Também conhecida como ovinha, depois de hidratada ela se transforma em bolinhas que lembram ovas de peixes e sêmola de cuscuz marroquino

Jambu

As flores amarelas e as folhas serreadas dessa erva, que é muito usada para condimentar pratos típicos do Norte do país, causam dormência na boca

Tambaqui

Na época da cheia, esse peixe de escama torna-se um dos principais produtos do mercado de Manaus; tem gordura concentrada na barriga, espinhas grossas e se alimenta dos frutos que caem nas margens dos rios

Jaraqui

Peixe muito consumido pelas comunidades ribeirinhas, ele pode alcançar 26 centímetros de comprimento; é cheio de finas espinhas, que, fritas, ficam crocantes

Mandioca-brava

É o nome que se dá à mandioca amarga. Ela dá forma ao tucupi, à goma de tapioca e a farinhas