Após seis anos em queda, o desmatamento na Amazônia dá sinais de que voltará a aumentar neste ano. A notícia representa um revés momentâneo para proprietários rurais que defendem a mudança do Código Florestal.
O código deverá ser votado na Câmara dos Deputados na terça-feira. O texto do relator Aldo Rebelo (PC do B-SP) legaliza alguns desmatamentos realizados até 2008 que, pela lei atual, são irregulares. Na expectativa de anistia, donos de terra estariam promovendo uma derrubada preventiva.
A hipótese soa plausível. O maior salto se deu em Mato Grosso, principal fronteira do agronegócio na Amazônia. De agosto de 2009 a abril de 2010, derrubaram-se ali 497 km2 de matas (um terço da área do município de São Paulo); no mesmo intervalo de 2010-2011, 733 km2, incremento de 47%.
Em toda a Amazônia Legal, o acréscimo foi de 27%. Se comparados só os meses de março e abril deste ano com os do ano passado, a taxa de aumento vai a 473%. O dado causa alarme por serem meses úmidos, quando a derrubada de florestas requer mais esforço (não há como manter queimadas).
Trata-se de uma informação preliminar, porém. Quando for apurada com maior detalhe, ao final do ano, indicará uma área devastada maior que o total de 1.848 km2 ora apurados pelo Deter para toda a região amazônica.
A expectativa agropecuária com a reforma do Código Florestal, contudo, não deve ser a única causa por trás do recrudescimento. Com os preços internacionais de commodities agrícolas nas alturas, os proprietários se encontram capitalizados, com recursos para investir no desmatamento.
Mesmo sem a promessa de lei mais branda, parece certo que avançariam sobre a floresta. A expectativa de ganho fala mais alto.
Alguma concessão para os ruralistas virá com o novo código. Mas é preciso limitar ao máximo a premiação daqueles que promoveram desmates sabidamente ilegais, sobretudo os mais recentes.
Sem a interrupção desses incentivos para desrespeitar a lei, e diante da dificuldade do governo federal de fazer que seja cumprida, sobra o recurso às operações espetaculares -e nada eficazes- com a participação do Exército.

Fonte: Folha de S. Paulo