Reserva de Golfinho, explorada pela Petrobras na bacia do Espírito Santo, produz apenas 9% das estimativas iniciais

Para especialistas, Petrobras deu azar; mercado estima investimento superior a US$ 500 milhões

LEILA COIMBRA
DO RIO

O campo de Golfinho, explorado pela Petrobras no pré-sal da bacia do Espírito Santo, desapontou as estimativas iniciais e se tornou um fracasso, passando a produzir mais água que petróleo.
A produção diária prevista era de 300 mil barris, mas hoje o campo produz 9% disso, ou 26 mil barris por dia.
Golfinho é um caso único de puro “azar”, segundo especialistas.
A principal causa dessa queda da produção é a presença de um aquífero que invadiu a reserva.
“Houve uma fatalidade. Normalmente há água com a reserva de petróleo, que promove a pressão para que o óleo seja expelido. A água costuma invadir a reserva no fim da vida produtiva de um campo, mas em Golfinho isso aconteceu cedo demais. A Petrobras deu azar”, disse um especialista que pediu para não ser identificado.
Quando achou a reserva em 2003, a estatal anunciou com festa a descoberta. Tratava-se de um reservatório com 450 milhões de barris de óleo leve, considerado o mais nobre, com grau cima de 31º API (sigla que em inglês significa American Petroleum Institute).
Inicialmente a Petrobras pretendia colocar lá três sistemas de produção (FPSO, em inglês Floating Production Storage and Offloading), uma espécie de plataforma.
Cada FPSO de Golfinho teria capacidade de produção de 100 mil barris.
O plano foi abortado e hoje apenas um sistema de produção funciona no campo, e sem atingir nem um terço de sua capacidade.
Uma das sondas que haviam sido encomendada para lá, a FPSO Capixaba, acabou sendo remanejada no ano passado para o campo de Cachalote, no Parque das Baleias, no Espírito Santo.
Para o especialista em energia e diretor do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura) Adriano Pires, o risco faz parte da atividade de exploração de petróleo.
“Às vezes as empresas investem milhões e perfuram um poço seco. O problema da Petrobras no caso de Golfinho foi anunciar de forma precipitada a produção de 300 mil barris por dia, o que acabou não se confirmando.”
Apesar da decepção, especialistas em petróleo consultados pela Folha dizem não acreditar que o caso ponha em xeque a atratividade do pré-sal brasileiro.
“Ainda não existe uma série histórica de muitos anos mostrando a atividade do pré-sal. Tudo é muito recente. Mas a taxa de sucesso é alta”, disse um analista que acompanha de perto o setor.
A Petrobras não informa o quanto investiu em Golfinho, mas no mercado a estimativa é que o investimento tenha superado US$ 500 milhões.
Recentemente a gigante americana Exxon contabilizou dois poços do pré-sal como perda em seu balanço contábil, pois eles não continham reservas comerciais.
O episódio se configurou no primeiro grande fracasso na exploração do pré-sal.
A concessão, ao sul das descobertas Carioca e Guará, da Petrobras, era apontada como uma grande aposta.

fonte: folha de sp