articipo há anos de conferências ligadas a temas ambientais, como as do Clima, da Biodiversidade e Desenvolvimento Sustentável. Cada vez mais vejo que esses grandes eventos tornaram-se palcos de debates acalorados com incontáveis possibilidades. Sabedores disso, nos últimos tempos os diplomatas desenvolveram um modelo com intenção de aperfeiçoar os trabalhos: as consultas e reuniões preparatórias, que intentam organizar melhor os documentos e discussões antes das grandes conferências das Nações Unidas. Solução interessante. Contudo, mesmo assim, não é possível amarrar todas as pontas desse emaranhado de ideias.

Desse modelo nasceu o documento final da Rio+20, chamado “O futuro que queremos”. Essa carta é analisada de formas distintas, dependendo dos olhos de quem a vê, podendo ser comemorada ou criticada. Lendo com atenção não é passível de nenhum dos sentimentos. Ela atinge o que dela era esperado.

Mas o grande ganho da Rio+20 não está somente no sistema usado pela ONU para buscar um futuro comum a todos os povos, pois não é só de governos que o mundo é feito. Devemos aplaudir a Rio+20 por sua capacidade e efetividade na mobilização da sociedade civil. É difícil tangibilizar o intercâmbio de conhecimento, mas com certeza muitos movimentos sociais, ambientais e até empresas saíram da Rio+20 mais fortes do que chegaram. Essa reciclagem é impar.

Essa evolução ainda não atingiu o estado da arte. Ainda há um longo caminho até a sociedade estar preparada. Focos múltiplos sem priorização dos temas são fruto da diversidade de conhecimento. Mas também são fonte de morosidade para a criação de propostas sólidas e que se sustentem. Essa dificuldade em alinhar ideias e balancear o prático e o teórico pôde ser vista nas várias plenárias e eventos paralelos.

As empresas conseguem se organizar melhor em blocos e evoluir na discussão. Os principais pontos de discussão e consenso na Rio+20 foram:
1- Relatórios de Sustentabilidade integrados às demonstrações financeiras são uma tendência. Mensurar e reportar de maneira integrada são os primeiros passos para adaptação dos modelos econômicos a uma economia verde.
2- As principais soluções apresentadas para a economia verde estão relacionadas com energia renovável, aspecto em que se destacaram as propostas apresentadas pela China e Alemanha. O Brasil tem uma matriz energética invejável e está incentivando fontes alternativas, principalmente eólica, mas por questões estratégicas vem também sujando a mesma em busca de equilíbrio sistêmico.
3- O lançamento do Natural Capital Declaration, no qual os bancos se comprometem a buscar maneiras para contabilizar e incluir na decisão de investimento aspectos relacionados ao capital natural.
4- Água, alimentos e energia são basicamente os três pilares que as empresas, governos e ONGs abordaram com relação à economia verde. Mudanças climáticas é também um tema reconhecido como prioritário, mas dentro desse pacote.
5- A mensuração das riquezas foi alvo de muita discussão. Como alterar ou substituir indicadores como o Produto Interno Bruto -PIB por outros mais completos que considerem questões sociais e ambientais. Neste caso, relatórios integrados teriam total conexão com as propostas de mudanças.
6- Importante tendência de cada vez mais integrar as pequenas e médias empresas de forma mais ativa na busca por uma economia verde.

Esses pontos são um importante sinalizador de que as empresas hoje traduzem de forma mais rápida o sentimento da sociedade em geral do que os governos e com isso agem mais rápido também, prova disso são os Prêmios de Mudança do Clima e Empresa Verde realizados anualmente pela revista Época em parceria com a PwC. Com 5 e 2 anos de vida respectivamente, o Prêmio Época de Mudanças Climáticas e o Prêmio Época Empresa Verde trazem cada vez mais exemplos de sucesso, projetos aplicados pelas empresas em prol de um mundo melhor. O compartilhamento desse conhecimento, por meio dos Prêmios, cresce a cada ano fazendo com que as empresas busquem aprimorar suas respostas e ações. O resultado dessa liderança apresentada pelos participantes dos Prêmios é uníssono com os principais resultados que vimos na Rio+20.

O maior sucesso desses últimos 5 anos é aproximar a sociedade em geral das ações de vanguarda que buscam o desenvolvimento sustentável de novos negócios e modelos de produção rumo à sonhada economia verde. As empresas participantes dos Prêmios provam a cada ano sua crença de que o futuro que queremos é o que estamos dispostos a construir.

(Ernesto Cavasin Neto, diretor de Sustentabilidade da PwC Brasil, Presidente da Associação das Empresas do Mercado de Carbono e Coordenador técnico do Prêmio Época Empresa Verde)