A interrupção da prospecção de petróleo em águas profundas na costa americana, prorrogada no fim de maio devido à mancha de óleo, é criticada por alguns especialistas, que temem uma queda da produção no longo prazo, mas defendida por outros em nome da segurança.

O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou em 27 de maio a prorrogação por mais seis meses, até o fim de novembro, da proibição para as concessões de perfurações petroleiras em alto-mar.

Atualmente, há 33 plataformas de prospecção em águas profundas paralisadas na costa americana. Cada uma representa um custo de US$ 500 mil diários e não se sabe que destino elas terão.

“O grande vencedor neste assunto é o presidente Lula do Brasil”, assegura Eric Smith, co-diretor da Tulane Energy Institute. Lula “acreditava que teria de esperar três anos para sua primeira plataforma de petróleo estar pronta, mas a partir de hoje ele pode adquirir 33 a um preço muito interessante”, explicou Smith à France Presse.

O Brasil acaba de descobrir uma jazida de petróleo leve estimada em mais de 60 bilhões de litros, em águas profundas, na chamada camada do pré-sal.

Segundo Eric Smith, a indústria petroleira americana corre, assim, o risco de se ver afetada justamente quando a prospecção de petróleo no mar mostrar excelentes resultados em matéria de segurança. “Quando cai um avião, não se proíbem os voos, tenta-se entender o que aconteceu”, afirmou.

Cerca de 50 mil plataformas de prospecção petroleira operam na costa americana, 700 delas em águas profundas, como a da BP que explodiu em 20 de abril e afundou dois dias mais tarde, provocando uma gigantesca mancha de óleo.

Mas para David Pettit, advogado da organização ambientalista americana Natural Resources Defense Council, o custo de uma nova catástrofe seria muito alto.

Os grupos petroleiros “estão muito mais avançados em matéria de tecnologias de prospecção para evitar erros”, disse.

As possíveis consequências da mancha de óleo ainda são ignoradas (a fonte do vazamento está a 1.500 metros abaixo da superfície do mar), assim como do uso feito pela BP de um dispersante químico para limitar os efeitos na costa, lembra Pettit.

O advogado afirma também que os métodos de limpeza evoluíram pouco nos últimos 41 anos, quando os Estados Unidos enfrentaram seu primeiro vazamento após a explosão de uma plataforma em Santa Bárbara, na Califórnia.

“Se a humanidade quer petróleo, então as águas profundas são sua última fronteira”, afirma Tadeusz Patzek, professor de engenharia petroleira da Universidade do Texas, em Austin.

Dos poços de petróleo em águas profundas seriam extraídos, antes de 2020, 40% da produção mundial.

Mas se a indústria soube desenvolver tecnologias eficazes para perfurar e extrair, foi menos rigorosa na hora de testar medidas de segurança que funcionassem em caso de acidentes graves, como uma explosão, ou para prevenir os erros humanos em um sistema extremamente complexo.

“Realizar testes suficientes teria aumentado o custo de forma exponencial”, afirma Patzek, para quem a indústria petroleira se preocupa mais em perfurar e extrair petróleo do que em aumentar a segurança.

FSP