Resultados indicam que a população de papagaio-de-cara-roxa no litoral norte do Paraná está em crescimento moderado e que os esforços de conservação estão sendo positivos para a espécie

No fim de maio, foi realizado o Censo do papagaio-de-cara-roxa (Amazona brasiliensis), espécie endêmica da Floresta Atlântica, no trecho que vai do litoral sul de São Paulo ao litoral norte de Santa Catarina, englobando todo o litoral paranaense. O resultado do Censo 2015 foi melhor do que o esperado, tendo contabilizado a presença de 7.464 indivíduos no Paraná e 1.712 em São Paulo. Os números são os maiores já encontrados pelos pesquisadores do Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa, da Sociedade de Pesquisa em Vida Selvagem e Educação Ambiental (SPVS).

O censo é uma importante ação de monitoramento que o Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa realiza há 13 anos no litoral do Paraná, e desde 2013 no litoral sul de São Paulo, para saber se a população está se reproduzindo e conseguindo se manter em sua área de ocorrência.  O propósito do projeto é minimizar as ameaças que afetam o papagaio-de-cara-roxa e seu hábitat e contribuir com a conservação da região do Lagamar, um importante remanescente da Mata Atlântica que abriga diversos sistemas naturais e mantém uma diversidade em áreas continentais, costeiras e marinha.

Os dados das contagens anuais no estado do Paraná foram avaliados pela professora Lilian Tonelli Manica e pelo pós-doutorando André de Camargo Guaraldo, ambos da Universidade Federal do Paraná. Uma primeira análise estatística demonstrou que a população do litoral norte está em crescimento moderado. No entanto, é necessária cautela ao interpretar esses resultados, pois ainda há necessidade de aprimorar os modelos da análise. Isso pode indicar que as principais ameaças na região, que eram o roubo de filhotes e a falta de local para formar ninhos, foram minimizadas pelas ações do projeto, que realiza há mais de dez anos ações de manejo com ninhos artificiais, campanhas educativas de combate ao comércio ilegal de fauna e ações de sensibilização e informação com os moradores locais e visitantes.

“Ainda é cedo para afirmar a situação da população no litoral de São Paulo, pois a equipe do projeto, com a colaboração de inúmeros pesquisadores do Estado, ainda está conhecendo todos os dormitórios coletivos e a dinâmica da população nessa região”, esclarece a coordenadora do projeto, Elenise Sipinski.

Ela também explica que, em Santa Catarina, as notícias não são boas. Há mais de dois anos a equipe busca registros de indivíduos nas suas áreas de ocorrência, sem sucesso. A supressão da vegetação devido à pressão imobiliária é uma das causas desse resultado.

Para que o Censo se concretize com sucesso, uma equipe de cerca de 50 voluntários, entre pesquisadores e estudantes, auxilia nas contagens. Para isso, eles se posicionam nos diferentes pontos de contagem, ao redor dos dormitórios coletivos, situados em ilhas e pontos específicos no continente.

Para alguns, foi a primeira chance de acompanhar de perto o trabalho do projeto, como a estudante de Biologia Fernanda Bonotto, que foi voluntária em Cananeia (SP). “É bem diferente conhecer o projeto na prática e importante ver que tem gente agindo para proteger o hábitat da espécie”, relata. Já a bióloga Silvana de Andrade é veterana na participação. Esse foi o quinto Censo do qual ela foi voluntária e, excepcionalmente, pôde perceber a diferença entre os locais que o papagaio habita. “Sempre participei do Censo no Paraná, e dessa vez fiquei em um ponto no litoral de São Paulo, onde tem mata, mas também ambiente urbano. Tem a diferença de cenário e também é perceptível a quantidade maior de indivíduos no Paraná”, explica.

Campanha

Para complementar os recursos para a realização do Censo 2015, a SPVS promoveu, de abril a maio, uma campanha de financiamento coletivo pela internet. Ao doar determinada quantia, a pessoa recebia recompensas relacionadas ao papagaio, como canecas, livros e até fotos de Zig Koch, renomado fotógrafo de natureza e parceiro de anos da SPVS e do projeto.

O Censo 2015 também contou com a parceria com a instituição financeira cooperativa Sicredi, que forneceu parte dos recursos para a concretização da contagem. “No Sicredi seguimos a orientação do triple bottom line: os pilares Econômico, Social e Ambiental. Os dois primeiros já estão no DNA de nossas cooperativas e apoiar ações como esta, da SPVS, irão nos orientar no pilar Ambiental”, destaca o presidente da Central Sicredi PR/SP/RJ e da Sicredi Participações S.A., Manfred Alfonso Dasenbrock.

Ao fim da campanha, 52 pessoas fizeram colaborações e somaram R$ 13.713, superando a meta inicial.

O Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa tem apoio da Fundação Grupo Borticário e da Fundação Loro Parque para a realização de diversas ações, entre elas o censo populacional.

 Sobre o projeto

O Projeto de Conservação do Papagaio-de-cara-roxa trabalha desde 1998 no litoral do Paraná, principalmente em Guaraqueçaba, com o objetivo de conhecer e proteger a espécie e a floresta. Além disso, busca sensibilizar e apoiar os moradores da região, por meio de ações de educação para conservação, incentivo a iniciativas que geram alternativas de renda e contratação de residentes para auxílio nas ações do projeto.  No estado de São Paulo, no último ano, a equipe do projeto vem realizando um diagnóstico da situação da espécie.

No fim de 2014, o papagaio-de-cara-roxa saiu da Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção, divulgada pelo Ministério do Meio Ambiente. Sua situação passou de “vulnerável” para “quase ameaçada”. A saída da lista reflete a força do trabalho realizado com a espécie, mas também mostra que as atividades devem continuar.