Em comemoração ao Dia Nacional de Cerrado (11/09), o WWF-Brasil destaca, por meio de infográficos, os cinco mamíferos do bioma considerados emblemáticos e ameaçados de extinção: Lobo-Guará, Onça-Pintada, Tamanduá-Bandeira, Anta e Tatu-Canastra
 
A extensão e localização geográfica diz muito sobre a importância do Cerrado, pois, além de conectar três países da América do Sul (Brasil, Bolívia e Paraguai), ele funciona como um elo entre quatro dos cinco biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, e Pantanal. Por isso, compartilha diversos animais e plantas com essas regiões. E também abriga exemplares únicos da natureza, a ponto de ser considerado a savana mais rica em biodiversidade do planeta. Muitas delas só existem nesta região, que ocupa um quarto do território brasileiro.
Imagine um lugar onde vivem mais de 11 mil espécies vegetais, e fauna é tão diversa quanto a flora. Estima-se que o Cerrado possua 837 espécies de aves, 120 de répteis, 150 de anfíbios, 1.200 de peixes, 90 mil insetos e 199 tipos de mamíferos. Juntando tudo, dá quase 5% de todas as espécies no mundo e 30% da biodiversidade do país.
Já foi constatado que no mundo existem 5.487 espécies de mamíferos, sendo o Brasil o segundo país que abriga o maior número de mamíferos, com 700 espécies. O número de mamíferos do Cerrado representa mais de um terço do total conhecido no país.
Das espécies de animais no Brasil, mais de 5 mil vivem apenas nos limites do bioma e estão, principalmente, dentro de áreas protegidas onde encontra-se a maior parte remanescente de Cerrado nativo. Atualmente, menos de 10% do Cerrado está dentro de Unidades de Conservação, sendo somente 3% na categoria de proteção integral, o que coloca em risco a existência de diversos animais.
Além da diminuição das áreas naturais, existe a caça ilegal, os incêndios e as queimadas, como principais ameaças à sobrevivência da fauna.
A lista mundial de espécies ameaçadas aponta que um em cada quatro mamíferos do mundo corre risco de extinção e a população de metade das espécies de mamíferos está em declínio. Isso quer dizer que se nada for feito, esses animais podem desaparecer do planeta em breve.
De acordo com Julio César Sampaio, coordenador do Programa Cerrado Pantanal do WWF-Brasil, “o Cerrado está desaparecendo rapidamente, cedendo lugar à agricultura e pecuária extensiva. Esse modelo de exploração dos recursos naturais tem resultado em sérias ameaças à sobrevivência de pelo menos 137 espécies de fauna (22%). Dentre estas, o lobo-guará, a onça-pintada, o tamanduá-bandeira, a anta e o tatu-canastra. Animais que são considerados emblemáticos do bioma e ameaçados de extinção”.
Saiba um pouco mais sobre os “Big Five” do Cerrado.
 
Onça-pintada (Panthera onca)
É o maior felino das Américas e corre risco de extinção no Brasil. A onça-pintada habita ambientes preservados, próximo a fontes permanentes de água e com grande quantidade de presas.
É listada como quase ameaçada na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). Isso quer dizer que, mantendo-se as condições atuais, é provável que a espécie passe a ser classificada como ameaçada de extinção num futuro próximo. Na lista brasileira a onça-pintada já é classificada como ameaçada de extinção na categoria vulnerável. 
O desmatamento e a caça são as principais ameaças à espécie. O desmatamento diminui a área disponível para a onça-pintada e suas presas, além de dificultar a troca gênica favorecendo a reprodução entre indivíduos parentes. Já a perseguição pelo homem acontece em alguns casos porque a espécie pode atacar animais domésticos, causando prejuízos.
Uma curiosidade: a onça-preta e a onça-pintada são animais da mesma espécie. Nos animais de coloração negra, conhecidos também como melânicos, as pintas são mais difíceis de notar, mas estão presentes em tom ainda mais escuro que o restante da pelagem.
 
Tatu-canastra (Priodonte Maximus)
O tatu-canastra, também conhecido como tatuaçu ou tatu gigante, é considerado o maior e mais raro dos tatus existentes no mundo. A espécie pode chegar a 1,5m de comprimento e pesar até 60 kg, sendo que, aparentemente, os machos são maiores e mais pesados que as fêmeas.
O tatu-canastra é considerado pelos pesquisadores o “engenheiro do ecossistema”, ou seja, por meio de suas escavações, altera o ambiente físico e cria novos habitats.  Trata-se de um animal característico do Cerrado, mas que também tem incidências em outros biomas do Brasil como Pantanal, Mata Atlântica e Amazônia.
Tem hábitos noturnos e semifossoriais (passam parte do tempo abaixo do solo), o que dificulta sua visualização e estudo. Não existem muitas pesquisas sobre sua reprodução, mas há registros que o período de gestação é de aproximadamente cinco meses e nasce apenas um filhote.
A espécie está ameaçada de extinção e é atualmente classificada como “Vulnerável” pela Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN e “Criticamente em Perigo” em diversos estados. A perda de seu hábitat natural e a caça causaram a queda de sua densidade populacional nos últimos 25 anos. Antigamente, no país, o tatu era muito visado por caçadores em busca da sua carne para alimentação e sua armadura, muito resistente, para fazer utensílios. 
 
Anta (Tapirus terrestres)
É o maior mamífero terrestre do Brasil e na América do Sul. Mede um metro de altura e dois metros de comprimento e pesa cerca de 300 kg. A característica mais distinta da espécie é sua narina, longa e flexível, que parece uma pequena tromba.
A anta alimenta-se de folhas, frutos, vegetação aquática, brotos, gravetos, grama e caules que são digeridos graças à presença de microorganismos em seu aparelho digestivo. É uma espécie tipicamente solitária e de hábitos noturnos, mas também pode realizar atividades durante o dia.
Tem capacidade de nadar muito bem, inclusive em rios amplos. Quando vive em florestas, costuma usar trilhas já abertas, o que a torna mais vulnerável à caça. Seus predadores são grandes felinos como a onça-pintada e a suçuarana, que atacam, principalmente, os filhotes. A gestação da anta dura cerca de 380 dias e gera apenas um filhote por vez.
Segundo a Lista Vermelha da IUCN seu estado de conservação é “vulnerável” (VU), mas a anta se encontra “Em Perigo” (EN) no Cerrado. O tipo de ameaça que sofre é a destruição de seu habitat, a caça, o fato das populações estarem isoladas e em declínio.
 
Tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla)
Essa espécie é facilmente reconhecida por sua pelagem característica, que tem uma faixa diagonal preta com bordas brancas, que se estende do peito até a metade do dorso.
É um mamífero que mede cerca de 2,20 metros de comprimento, pesa até 45kg, tem uma cauda grande e com pelos grossos e compridos e um focinho longo. Usa suas garras dianteiras para escavar vários formigueiros e cupinzeiros ao longo do dia para capturar, com sua língua extensível, até 30 mil formigas e cupins. E por isso, não possui dentes.
A espécie é encontrada em campos limpos, cerrados e florestas. Apesar de ser mais comum em áreas de Cerrado. Por sua versatilidade pode ser encontrado da América Central até a América do Sul. Originalmente, ocorria em todos os estados brasileiros, mas atualmente está em risco de extinção em todas as regiões do país e já foi extinto no Rio de Janeiro e no Espírito Santo. 
 
A degradação e a redução dos habitats são apontadas como as principais causas da perda populacional da espécie, mas a caça, o atropelamento em estradas e os incêndios florestais também contribuem para colocar o tamanduá-bandeira na lista de espécies ameaçadas de extinção.
 
Lobo-guará (Chrysocyon brachyurus)
O lobo-guará é considerado o maior canídeo sul-americano. Pesa de 20 a 30 kg e sua pelagem avermelhada com as pernas longas e finas dão um aspecto único ao animal. 
Alimenta-se principalmente de pequenos roedores, aves terrestres e de frutas como, por exemplo, a fruta do lobo (Solanum lycocarpum). Tem preferência por áreas de vegetação aberta, como campos e veredas. Pode ocorrer também em áreas produtivas, como alguns tipos de plantações e pastagens próximas a remanescentes de vegetação nativa, desde que exista alimento suficiente. No geral, evita florestas, mas pode utilizar estes ambientes como abrigo ou refúgio.
O lobo-guará é encontrado em áreas de vegetação aberta na região central da América do Sul, abrangendo porções do Brasil, Argentina, Paraguai, Bolívia e Peru.
É um animal solitário, que forma casais durante o período reprodutivo. Não se sabe com precisão a época de acasalamento da espécie em vida livre, mas em cativeiro a reprodução ocorre geralmente entre abril e junho. A gestação do lobo-guará dura cerca de 60 dias e, normalmente, nascem dois filhotes ao final deste período.
A estimativa é que existam pouco menos de 25 mil lobos-guará no mundo, sendo aproximadamente 20 mil deles no Brasil. A espécie aparece como “quase ameaçado” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN. Isso significa que, mantendo-se as condições atuais, é provável que a espécie passe a ser classificada como ameaçada de extinção no futuro. Já na lista brasileira, o lobo-guará é classificado como ameaçado de extinção na categoria “vulnerável”. 
A destruição do seu habitat é a principal ameaça à espécie. Além de diminuir a área natural disponível para a sua sobrevivência, também isola as populações, o que é bastante prejudicial no longo prazo.
Saiba mais informações sobre este assuno na Revista Ecoturismo do mês de setembro.