O etanol deixou de ser competitivo na maioria dos estados do País analisados pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)

E a entressafra não é o único fator que favoreceu esse cenário, na avaliação do sócio-diretor da consultoria de gestão de riscos agrícolas Archer Consulting, Arnaldo Luiz Côrrea.

Para ele, a elevação do preço do derivado de cana-de-açúcar muito se deve ao controle do preço da gasolina, que não sofre alteração desde junho de 2009, quando a Petrobras reduziu em 4,5% o preço do combustível nas refinarias. “O problema é que essa inalteração distorce os preços dos outros combustíveis”, avalia Côrrea.

Ele explica que a realidade do mercado de combustíveis no Brasil está mudando – muito por conta do aumento da participação dos carros flex no mercado automobilístico brasileiro. Segundos os últimos dados da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), em março deste ano os veículos flex representaram 84,59% dos emplacamentos de automóveis e comerciais leves.

Diante dessa realidade, a grande questão que se coloca, na avaliação do especialista, é o modo como se tenta manter o preço do etanol competitivo – representando até 70% do valor do litro da gasolina. Para o especialista, o mercado livre de quaisquer amarras o tornaria mais transparente e o etanol mais competitivo. “Não é o etanol que está caro demais é a gasolina que está artificialmente barata”, afirma. Com o mercado livre, na avaliação de Côrrea, caberia aos consumidores a variação dos preços.

Etanol X açúcar

Para Côrrea, além do fato de o preço da gasolina “travar” o preço do litro do etanol, os preços do açúcar no mercado internacional favorecem a menor oferta do combustível. “No Brasil, o produtor precisa viver no dilema de produzir açúcar ou etanol”, afirma. O especialista explica que ao produzir o açúcar, o produtor consegue visualizar o mercado e projetar preço e remuneração, o que não é possível fazer quando a opção é pelo etanol.

“Se tivéssemos um mercado de gasolina livre, o setor sucroalcooleiro teria se antecipado aos investimentos necessários e, talvez, não estaríamos hoje com um atraso na expansão para atender a participação cada vez maior do etanol, sobretudo no mercado interno”, reforçou.

Como uma das medidas para impedir o abastecimento de etanol nos períodos de entressafra, o Governo estuda taxar a exportação de açúcar, fazendo com que os produtores optem por produzir etanol, elevando a oferta de combustível e pressionando os preços para baixo. Para Côrrea, essa medida não é acertada. “Isso desestimularia o investidor, porque as regras não ficariam claras”, critica.

Para o especialista, o financiamento de estoques regulatórios é a principal medida para controlar o aumento do preço do etanol e impedir o desabastecimento em épocas de entressafra. Além disso, o especialista também defende que as montadoras devem estudar meios de aumentar a rentabilidade do etanol a médio e longo prazo nos veículos flex.

Preços altos

De acordo com os dados da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), o litro do etanol encerrou março com alta de 11% frente a fevereiro e de 14,56% na comparação com março do ano passado.

O litro do combustível, na média nacional, ficou em R$ 2,1, contra R$ 1,891 em fevereiro. E ultrapassou a barreira dos R$ 2 em 25 unidades federativas das 27 analisadas pela Agência. Já a gasolina ficou em R$ 2,661 no mês passado, contra os R$ 2,615 de fevereiro – alta de 1,76%.

Para o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, as altas se devem a problemas do mercado. “O problema é que o mercado tem liberdade de preços”, disse o ministro. De acordo com o ministro, a política de preços da Petrobras nada tem a ver com os aumentos sucessivos do derivado de cana-de-açúcar. “Nós não tivemos aumentos [de preços] declarados pelo Governo há dois anos, nem de gasolina, nem de nada. A última alteração que houve, por meio da Petrobras, foi há dois anos, e essa alteração foi para baixo e não para cima”, considerou Lobão.

fonte:  portal do agronegocio