Fundação Banco do Brasil vai repassar R$ 200 mil para a implantação do sistema agroflorestal em 30 propriedades rurais

Por Veronica Lima

A produção agroecológica ganhou um novo fôlego na região Noroeste Fluminense. Investimentos no valor de R$ 200 mil vão permitir que 30 propriedades rurais adotem o sistema agroflorestal (SAF), que concilia o cultivo de diversos alimentos no mesmo espaço, combinando espécies de porte menor com o plantio de árvores. O recurso foi obtido a partir de um convênio entre a Associação Central dos Produtores de Leite de Pádua (ACPROL) e a Fundação Banco do Brasil.
Os módulos de SAF a serem implantados são da modalidade de integração horta/floresta, que consorcia a produção de hortaliças e árvores e é propícia para a expansão do cultivo orgânico. O valor repassado pelo acordo, que foi assinado na última terça-feira (30/08), será utilizado na aquisição de máquinas e equipamentos, como 5 trituradores de galhos, troncos e resíduos; motosserras para poda e 30 sistemas de irrigação por gotejamento com bomba propulsora. “Os equipamentos de irrigação são individuais, um para cada propriedade. Mas o número de agricultores familiares beneficiados é muito maior, por conta do uso dos equipamentos coletivos”, esclarece o presidente da ACPROL, Luiz Fernandes Lopes.
O convênio é resultante do projeto elaborado pela associação, com apoio técnico do Sebrae/RJ, e aprovado no edital da Fundação Banco do Brasil, que prevê a cooperação entre três grandes grupos de produtores rurais do Noroeste – ACPROL, APROENF e APROCEN – que irão compartilhar alguns equipamentos (trituradores e motosserras para poda). Além do uso coletivo das ferramentas, os agricultores também têm em comum a assistência técnica da Rede de Pesquisa, Inovação, Tecnologia e Serviços Sustentáveis, mais conhecida como Rede de Agroecologia, que apoia diretamente a implantação do SAF na região.
Articulada desde 2012 pelo Rio Rural, programa da secretaria estadual de Agricultura, a Rede vem promovendo técnicas agroecológicas nas lavouras fluminenses. O grupo, coordenado pela Pesagro-Rio, conta com a participação de órgãos públicos e privados, como MAPA, Embrapa, Sebrae/RJ, Cedro (Cooperativa de Consultoria, Projetos e Serviços em Desenvolvimento Sustentável), Emater-Rio, UFRJ, além de associações de produtores e secretarias municipais de agricultura.
Benefícios das agroflorestas
Nos últimos três anos, a iniciativa capacitou os agricultores familiares do Noroeste Fluminense interessados em substituir a produção convencional – que usa agrotóxicos e fertilizantes químicos – pelo cultivo orgânico, que utiliza processos naturais de nutrição vegetal. Desde o final de 2015, a Rede de Agroecologia vem acompanhando a implantação do SAF horta/floresta em diversas propriedades da região.
O engenheiro agrônomo Eiser Felippe, consultor do Rio Rural e um dos responsáveis pela Rede, esclarece que com a adoção do SAF, a economia de água na produção agrícola chega a 80%, por causa da cobertura do solo, o que permite a produção durante a seca, que todo ano castiga o Noroeste fluminense.  “O SAF é ideal para áreas muito degradadas, porque ele promove a recuperação do solo junto com a produção de alimentos. O sistema concentra todos os recursos – solo, água, energia – e isso também facilita o trabalho do produtor”, afirma.
Márcio José da Fonseca, de Varre-Sai, foi o primeiro produtor da região a implantar o SAF horta/floresta em sua propriedade, que, até então, só tinha pasto para gado leiteiro e uma pequena área com horta convencional. “Foi a melhor coisa que eu fiz. Esse sistema é muito bom, pra gente que planta e para as pessoas que vão consumir. Eu tenho produção o tempo todo, porque as culturas são diferentes. Enquanto colho um, o outro está crescendo”, afirma o produtor.
Sob supervisão da Rede de Agroecologia, Márcio aderiu ao SAF em dezembro de 2015 e começou com uma área pequena. Foi expandindo aos poucos e até o final do ano terá uma área equivalente a um campo de futebol, com banana, aipim, cenoura, beterraba, alface, couve, mamão, milho, entre outras culturas, intercaladas com árvores de acácia. Agora ele inicia o plantio de frutíferas – laranja, mexerica e abacate. Ele vende a produção em feiras, entrega para a merenda escolar e fornece cestas de produtos orgânicos para os consumidores. “O SAF melhorou nossa qualidade de vida. Quando eu usava agrotóxicos, meus filhos viviam doentes. Isso acabou. É incrível ver a natureza mostrando a sua força”, afirma o produtor.