Por Felipe Bottini

 

feipeEstamos a pouco menos de um mês da Conferência Anual do Clima (COP19), promovida pela Convenção Climática da ONU,(UNFCCC – United Nations Framework Convention on Climate Change). Não só a sigla é difícil de ler e decorar a ponto de ter sido apelidada de “UNF triplo C”, mas todo o resto que a envolve parece também ser muito complicado.

 

Uma década atrás quem olhasse adiante as negociações internacionais e o gestante mercado de carbono, vislumbraria um futuro brilhante. Havia profissionais do maior gabarito técnico envolvidos no tema. Diplomatas e políticos determinados que promoveram um acordo global ímpar, o Protocolo de Quioto em 1998 – que trazia os principais emissores para um ambiente de promoção de desenvolvimento limpo e compromisso com o passivo de emissões, ao mesmo tempo que criava incentivos tentadores aos países em desenvolvimento ao reduzir emissões à medida que se industrializassem.

 

Pela primeira vez havia-se desenhado uma Convenção Quadro das Nações Unidas com um objetivo preventivo contra o aquecimento global. A palavra da vez era: “mitigação”. Vamos mitigar as emissões para evitar o aquecimento global e seus efeitos com potencial catastrófico! O objetivo era ambicioso, pois remetia à redução das emissões com base no que foi relatado em 1990 e já em 2002 as emissões do mundo tinham crescido muito. Mas o otimismo era preponderante.

 

O que não se percebeu é que, apesar de ter-se conquistado uma Convenção e Protocolos sofisticados, a natureza científica, diplomática e política dos seres humanos é a mesma e bastariam alguns ingredientes que surgissem no horizonte para mudar por completo o comportamento dessas e outras pessoas a ponto de tornar inviável continuar promovendo a redução das emissões conforme programado.

 

Houve um grande desenvolvimento nos principais países que vinte anos atrás eram tidos pela depreciadora alcunha de “terceiro mundo”. Somado a isso, a maior crise econômica global vista desde 1929, resultado de uma bolha provocada por um super estímulo monetário do Governo Americano no início dos anos 2000 e que se alojou no setor imobiliário da maior economia do mundo. A discussão dessa crise é tema de outra tese. Mas o que se vê é que o capital político mudou muito mundo afora e os países tradicionalmente ricos e prósperos, frente a enormes dificuldades de liquidez, começam a querer dividir o ônus histórico das emissões com os novos emissores, enquanto que estes novos emissores ainda se posicionam como vítimas de um desenvolvimento emissor. O acordo não veste mais a realidade e isso é um problema sério.

 

Do lado científico, aqueles que criaram toda a sistemática de projetos, metodologias, níveis-base, ferramentas de adicionalidade, mercado, corpos de avaliação de projetos que transacionam carbono para uma econômica de mercado de baixo carbono tendo a UNFCCC como central reguladora, fizeram um trabalho, na minha opinião, absolutamente brilhante, tão brilhante que fez muitos deles pensar ser donos da verdade. Nada além do que foi criado pode ser mais interessante do que o mecanismo de desenvolvimento limpo (MDL). Os principais agentes da mudança deram sua contribuição, mas impedem com força vital novas formas de pensar, como se continuar construindo por cima ou mudar o rumo frente à nova realidade que se apresenta fosse invalidar todo o resto. Uma pena.

 

Em 2009, na conferência do clima de Copenhagen, esse sintoma era evidente, pessoas distribuíam adesivos, broches e até gravatas – eu tenho uma dessas – com o dizer “Eu amo o Protocolo de Quioto” que denuncia um saudosismo precoce e uma tentativa apaixonada que já não servia à realidade – eu também não sabia disso à época, mas acertar previsões retroativas eu consigo com mais assertividade que as de futuro.

 

Do lado diplomático, o tema chamou tanta atenção que fez do principal representante do Brasil nessas negociações, nada menos que o Ministro das Relações Exteriores do atual Governo. efeito parecido ocorreu com outros líderes diplomáticos do Brasil e outros países que acabaram por avançar na carreira diplomática e  em outras áreas que a climática. Assim vai acontecer com os próximos, mas com a diferença que os que por ora estão se movimentando, estavam no tema desde o início e tinham grande poder de negociar com os cientistas próprios da equipe e também das outras, deixando um enorme vácuo em uma negociação difícil, cheia de relações complexas.

 

Nossa sorte é que a equipe não foi totalmente fragmentada e eu poderia citar pelo menos três nomes que certamente ainda vão prestar grande serviço ao País e que ainda estão envolvidos nas negociações climáticas. Assim, o clima perdeu prioridade na agenda política global em virtude da crise econômica, os astros da ciência deixaram aquilo que criaram perder a conexão com a realidade e, por fim, a diplomacia, depois do fracasso da COP 15, sofreu de um desgaste multilateral que, na minha opinião, ainda não foi recuperado.

 

Hoje a palavra da vez não é mais mitigação. Já aceitamos que não soubemos mitigar emissões de gases de estufa e temos que tomar conta da “adaptação” que é a nova palavra de ordem. Some a esses ingredientes alguns cientistas que defendem a não evidência completa de que é resultado da ação humana o aquecimento global. Alegam que 95% de chance não é 100% – logo não se pode afirmar que é resultado da ação humana. Comentários além não se fazem necessários, mas esse é um ingrediente de desconstrução que é bastante forte. Esses são os ingredientes da receita que temos pra ir ao forno, ou melhor, ao freezer, já que é no inverno da Polônia a próxima Conferência climática em novembro desse ano.

 

O que vai acontecer? Acho que não muito – mas lembrem-se que sou melhor em previsão de coisas que aconteceram do que daquelas que vão acontecer. A negociação da Plataforma de Durban, novo acordo que deve estabelecer metas até 2015, que entrem em vigor até 2020 de forma a incluir países em desenvolvimento na distribuição de metas..e isso nem de longe é consenso, a tomar pelo ritmo histórico só deve sair respectivamente em 2018 e 2023.

 

Não é tampouco pra ninguém se desesperar com o prognóstico. Eu sou péssimo nessa arte. A razão para isso é que as variáveis são dinâmicas. Do fundo da alma espero que um acordo concreto saia o quanto antes e que seja pela mudança de relevância percebida na variável prevenção e não pelo ganho repentino da variável de remediação que virá com elevado custo e não muito distante.

 

Felipe Bottini é economista pela USP com especialização em Sustentabilidade por Harvard. Fundador da (www.greendomus.com.br) e da (www.neutralizecarbono.com.br) e Consultor especial do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD.

 

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