ovens catadores vasculhando o lixo são uma imagem comum da pobreza crônica da Índia, mas agora há novos perigos com a crescente indústria do e-lixo. Asif, 7, passa os dias desmontando equipamentos eletrônicos em uma pequena e pouco iluminada unidade na região leste de Nova Déli, junto com outros seis garotos.

“Meu trabalho é catar estas pequenas caixas pretas”, disse ele, enquanto seus dedos agilmente colhiam circuitos integrados da pilha de restos de computadores ao seu lado. Seu irmão mais velho, Salim, 12, também dá duro no trabalho em vez de estar na escola. Ele extrai transistores e capacitores de placas.

Os irmãos, que não revelam quanto ganham, dizem que estão freneticamente ocupados com o crescente número de computadores, impressoras e outros bens eletrônicos que são descartados por lares e empresas.

Poucas estatísticas sobre a indústria informal do e-lixo são conhecidas, mas um relatório das Nações Unidas, publicado em fevereiro, descreve como montanhas de resíduos perigosos de produtos eletrônicos estão crescendo exponencialmente em países em desenvolvimento.

Em 2020, diz o documento, a Índia terá 500% a mais de e-lixo proveniente de computadores velhos e 18 vezes mais celulares antigos descartados do que em 2007.

Os riscos para quem manuseia esses restos estão claros para T.K. Joshi, chefe do Centro de Saúde Ocupacional e Ambiental do Maulana Azad Medical College, em Nova Déli. Durante 12 meses, ele estudou 250 pessoas que trabalham na cidade com reciclagem e desmontagem de equipamentos e descobriu que quase todos têm problemas respiratórios como asma e bronquite.

“Encontramos níveis perigosamente altos -dez a 20 vezes mais do que o normal- de chumbo, mercúrio e cromo em amostras de sangue e urina. Tudo isso tem um efeito prejudicial nos sistemas respiratório, urinário e digestivo, além de incapacitar a imunidade e causar câncer”, disse ele à France Presse.

Os metais e substâncias tóxicas entram na corrente sanguínea dos trabalhadores durante o processo de extração manual, em razão da precariedade dos equipamentos para obter minúsculas quantidades de metais preciosos. Equipamentos de segurança, como luvas e máscaras, são praticamente desconhecidos, e os trabalhadores -muitos deles crianças- geralmente não têm ideia do que estão manuseando.

“Todos os trabalhadores que entrevistamos não tinham ciência do perigo ao qual estavam expostos. Eles são analfabetos e estão desesperados por um emprego”, diz Joshi. “Para eles, a escolha é clara: morrer de fome ou intoxicado”.

MORTE LENTA
Ele alerta que a exposição a subprodutos do e-lixo, como cádmio e chumbo, pode resultar em morte lenta e dolorosa. “Eles não conseguem dormir ou andar. Estão esgotados ao atingir 35, 40 anos e incapazes de trabalhar”.

Não há estimativas de quantas pessoas morrem na Índia por causa do e-lixo, já que trabalhadores doentes retornam aos seus vilarejos quando não conseguem mais se sustentar.

“Computadores, TVs e celulares são os mais perigosos porque têm altas taxas de chumbo, mercúrio e cádmio, além de serem mais descartados, por seu curto tempo de vida”, diz Priti Mahesh, coordenadora do grupo ambiental Toxic Link.

O governo indiano propôs uma lei para regulamentar o comércio de e-lixo, mas o Centro para Ciência e o Ambiente (CSE, na sigla em inglês), um outro grupo ambiental de Déli, diz que qualquer legislação ignoraria o exército de trabalhadores informais, como os irmãos Asif e Salim.

“A proposta diz que apenas grandes empresas devem fazer reciclagem e desmontagem. Isso não irá funcionar porque o setor informal já tem um sistema barato, que será usado pelas pessoas”, diz Kushal Pal Singh Yadav, membro do CSE.

FSP