Para especialista do MIT, nível de segurança das centrais nucleares atuais está no limite do custo-benefício

A competitividade da energia nuclear também é minada pela pressão da opinião pública no Japão, dizem cientistas

RAFAEL GARCIA
DE CAMBRIDGE (EUA)

O Japão pode querer aumentar as exigências de segurança para que novas usinas nucleares resistam a terremotos fortes como o que causou o acidente de Fukushima 1, mas isso as tornaria financeiramente inviáveis, diz um dos melhores especialistas do mundo no setor.
Michael Golay, professor de engenharia nuclear do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), afirma que as usinas mais seguras dos EUA e do Japão têm projetos com orçamento no limite da relação custo-benefício.
“Quem impuser padrões mais rígidos, na prática estará tomando a decisão de usar uma outra tecnologia, porque o custo [da energia nuclear] ficaria proibitivo”, diz.

“DECISÕES ARBITRÁRIAS”
A conclusão de Golay tem como base o estudo da aceleração que o solo sob construções sofre durante um terremoto. Engenheiros preferem essa unidade de medida à escala Richter porque ela reflete mais diretamente os danos causados a edifícios.
Hoje, qualquer usina nuclear projetada nos EUA (incluindo projetos vendidos ao Japão) é capaz de suportar uma força de aceleração de pelo menos 0,25 g -equivalente a um quarto da aceleração da força gravitacional do planeta Terra.
Os Estados americanos mais exigentes requerem usinas capazes de 0,40 g. O terremoto que danificou Fukushima 1, em contrapartida, atingiu 0,50 g.
Segundo Golay, no final das contas, agências reguladoras precisam tomar decisões arbitrárias.
“As exigências de segurança estão sendo levadas muito a sério, mas as usinas não têm sido projetadas para suportar os maiores terremotos que podemos conceber”, diz o especialista.
“Cada sociedade tem de tomar sua decisão sobre a qual a força de terremoto uma usina tem de suportar.”
Outro fator que ameaça minar a competitividade das usinas nucleares no Japão, segundo cientistas do MIT, é a opinião pública.
“Uma sequência de acidentes nucleares no passado, no Japão e em diversos países, fortaleceu grupos locais de cidadãos que tentam impedir a construção de usinas em suas vizinhanças”, afirma Richard Samuels, cientista político do MIT especialista em Japão.
Segundo ele, isso encarece a política de energia do país. “Entravam no orçamento nacional até mesmo fundos para aceitação pública, que eram basicamente “suborno” oferecido a algumas localidades na forma de construção de piscinas públicas, centros cívicos etc. em troca da aceitação de usinas.”
O efeito do acidente de Fukushima 1 na opinião pública, diz, pode tornar a estratégia cara demais ou inviável.

MASSACHUSETTS
O MIT fica longe de Tóquio, mas sua primeira reação pública ao acidente nuclear pode ter alguma influência sobre cientistas nucleares japoneses.
O país envia dezenas de alunos para serem formados todo ano na instituição, considerada a melhor escola de engenharia dos EUA, e Tatsujiro Suzuki, vice-presidente da Comissão de Energia Nuclear do Japão, estudou lá.
Nos últimos dez anos, o instituto tem sido o maior bastião acadêmico de defesa das usinas atômicas, pedindo o status de “energia limpa” ao setor como alternativa ao carvão e ao gás, emissores de gases do efeito estufa.
Ainda é cedo, porém, para dizer se a maioria dos cientistas da casa será favorável a uma revisão dos padrões de segurança nessas usinas.
Um freio na política nuclear do Japão provavelmente provocaria retrocesso em seus compromissos de combate ao aquecimento global.

Fonte: Folha de São Paulo