As estrelas douradas e o denso azul da bandeira da União Europeia ficam desbotadas com a decisão de não vir à conferência que teria o potencial de forjar um caminho de desenvolvimento mais sustentável. Ilustração: Paulo André Vieira

Depois que a chanceler  alemã Angela Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron  anunciaram que não virão à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, ontem o Parlamento Europeu também anunciou que não participará. O motivo alegado foi o elevado preço da hospedagem para a delegação, que seria um gasto inaceitável em tempos de crise na Europa.

Os coordenadores da Comissão de Meio Ambiente do Parlamento, que tomaram a decisão, criticaram os altos preços dos hotéis do Rio de Janeiro, onde estão cobrando até 600 euros por noite, segundo informações divulgadas no jornal Folha de S. Paulo. No total, 11 parlamentares viriam ao Brasil. Mesmo em grave crise econômica, essa parece uma desculpa esfarrapada para boicotar a Conferência. “Há um entrave, mas nem tanto. Se eles precisavam de um pretexto para fugir da raia na Rio+20, seria preferível arranjar um melhor”, declarou, também ao Estadão, Sérgio Besserman, que coordena o grupo de trabalho Rio+20 da prefeitura carioca.

O esvaziamento politico da Conferência é um temor real. O presidente americano, Barack Obama, não confirmou, mas provavelmente não virá à rio+20. Está mergulhado na sua reeleição, assim como o primeiro-ministro britânico, que enfrenta oposição do próprio partido. São situações da conjuntura de cada país que acabam esvaziando a conferência.

Além das desistências, outra má notícia assombra a Rio+20: o impasse em torno do documento final. Na semana passada, em Nova York as dificuldades para progredir eram tão grandes que os negociadores ganharam um prazo extra (entre 29 de maio e 2 de junho) para transformar o rascunho um em um documento que permita o acordo. Por enquanto, é um emaranhado de 200 páginas cheio de colchetes, o que na linguagem dos diplomatas, significa pontos do texto que estão sem acordo.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sede do parlamento europeu em Estrasburgo, França

Num artigo publicado hoje no seu blog, o cientista político Sérgio Abranches  ? fundador e ex-colunista de Oeco ? analisa os problemas domésticos dos principais países da Europa, dos EUA e da China. Ele conclui que a Rio+20 “Pode acabar se transformando em uma reunião do primeiro escalão dos países em desenvolvimento e das potências emergentes, assistida pelo segundo escalão dos países desenvolvidos”.

Mas não são só notícias ruins que chegam. Tanto o presidente eleito da França, François Hollande, quanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, comunicaram hoje por telefone a presidente Dilma Rousseff que virão a Rio+20.

Desde a 17ª Conferência das Partes (COP17) da Convenção de Mudanças do Clima das Nações Unidas (UNFCCC), realizada em Durban, no final do ano passado, quando a COP começou em um clima de pessimismo e no finalzinhoarrematou um acordo (não tão ambicioso como se queria, mas um acordo), que a prudência diz para não confiar muito na previsão, quase sempre pessimista, sobre as conferências ambientais. É esperar e torcer para que as sombras sobre a Rio+20 escondam também boas surpresas.