Iniciativa atenderá mais de 1.400 agentes que atuam no Ambiente de Contratação Livre, também chamado mercado livre, que representa cerca de 25% da energia consumida no País

12 de abril de 2011 | 11h 04

Kelly Lima, da Agência Estado

RIO – O empresário Eike Batista está neste momento anunciando a composição da empresa BRIX, no Rio de Janeiro, em parceria com o fundador e primeiro presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Roberto Teixeira da Costa. A empresa será uma plataforma eletrônica de negociação de energia elétrica no Brasil, conforme a Agência Estado havia antecipado na última sexta-feira. Também participam da sociedade a ICE (Intercontinental Exchange), a Coteminas e a Compass Energia.

A iniciativa atenderá aos mais de 1.400 agentes que atuam no Ambiente de Contratação Livre (ACL), também chamado mercado livre, que representa cerca de 25% da energia consumida no País. Segundo os empresários, a perspectiva é de triplicar o volume de negócios nos próximos três a cinco anos, um salto dos R$ 25 bilhões estimados em 2010 para R$ 75 bilhões.

Entre as novidades, o mercado terá à disposição o índice BRIX Spot para medir a evolução de preços a partir das negociações efetivadas. O início das operações está previsto para junho deste ano.

“A BRIX nasce com DNA de energia”, afirmou Roberto Teixeira da Costa ao abrir o evento para jornalistas no Rio, ressaltando a experiência em tecnologia da Ice, líder global de negociação eletrônica em diversos mercados como energia elétrica, petróleo e commodities agrícolas. Apenas em contratos de energia nos EUA, a ICE comercializou em 2009 cerca de 800 mil MW médios, volume equivalente a 15 vezes a carga de energia total no Brasil.

O executivo Marcelo Mello, que assume a presidência da companhia, foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do mercado de derivativos de metais no Brasil, com carreira no Grupo Pechiney e posteriormente no Standard Bank. “Nós somos uma plataforma eletrônica, com tecnologia de ponta, experiência internacional, já testada e aprovada internacionalmente”, disse Mello, frisando que a Brix começa a operar em junho.

Segundo Mello, a plataforma eletrônica da BRIX será transformada em uma bolsa de energia elétrica por meio da introdução progressiva de mecanismos de liquidação financeira e contratos multilaterais. A implementação ocorrerá em três etapas ao longo dos próximos anos.

A primeira fase, disse, corresponde ao lançamento da plataforma eletrônica e seu uso pelos agentes no ACL em junho deste ano. Os contratos terão apenas liquidação com entrega/recebimento físico de energia elétrica por meio de registro na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

Em seguida, quando houver lançamento de contratos de derivativos de energia com liquidação financeira, o acesso será ampliado, permitindo a participação de instituições financeiras. Já em uma terceira etapa será estabelecida uma câmara de compensação e liquidação (clearing house), permitindo então o lançamento pela BRIX de contratos multilaterais com liquidação financeira.

“A comunicação será muito mais rápida, eficiente e direta. Do mesmo modo que no mercado atual, os players que poderão participar são os agentes da CCEE. A relação é bilateral e do mesmo modo que a regulamentação exige, todas as operações contratadas serão registradas na CCEE”, disse Mello.

BRIX

O presidente da bolsa eletrônica de negociação de energia elétrica BRIX, Marcelo Mello, destaca que os principais benefícios da nova plataforma serão o aumento da liquidez, maior transparência e segurança nas operações, eficiência na formação de preço e redução de custo transacional. “Vamos reduzir custo operacional do mercado”, disse Mello, frisando que a plataforma não tem interesse em comprar ou vender energia.

A operação será toda feita por meio de ambiente em plataforma web e não requer hardware ou software específicos. Os agentes assinam um acordo de participação na BRIX, comprometendo-se a respeitar regras e procedimentos da negociação online. Em seguida, cada participante estabelece limites de crédito bilateral, em megawatt (MW), para negociação com cada um dos demais. Essa medida define limite máximo de risco aceitável com as contrapartes, sem que elas tomem conhecimento. Feito isso, por meio de login e senha, os agentes entram na plataforma de negociação em si.

Os lances são anônimos até o fechamento da operação de compra e venda. Concluída a operação, as duas contrapartes que negociaram entre si recebem e-mail com a confirmação. O risco da operação é bilateral. O pagamento, bem como o registro obrigatório da cessão de energia elétrica correspondente na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), em breve poderão ser efetuados eletronicamente por meio do próprio sistema da BRIX.

Segundo o executivo, haverá um índice spot referencial que será divulgado diariamente, consolidando o que está sendo comercializado no mercado livre. “Quando este índice estiver consolidado, vamos introduzir um outro tipo de player, as instituições financeiras, o que vai conferir maior liquidez ao mercado”, disse, destacando que as liquidações financeiras continuarão sendo bilaterais. “A diferença neste caso é que não haverá troca transacional de energia. Não há registro na CCEE”, explicou.

A partir desta conclusão da terceira fase, com a inclusão das instituições financeiras, será criada uma nova Câmara de Compensação Financeira, e a partir daí, sim, serão feitos contratos multilaterais. “A Câmara é um sistema que garante o risco entre os diversos players”, comentou Mello. A solução, segundo ele, atende à demanda do setor por novos modelos e modernização dos mecanismos de negociação de energia elétrica no chamado mercado livre.

Marcelo Mello conta que foi feito um road show entre 70 operadores do mercado, consumidores, comercializadores, órgãos reguladores, ministérios e associações de classe para a apresentação da BRIX. “Tivemos uma excelente aceitação. Temos nos apoiando Petrobras, Vale, CSN, Renova, Alupar, Alcoa”, disse, ao que Eike Batista emendou: “MPX também”.

Ainda segundo Mello, como o objetivo da BRIX é estimular os negócios sem onerá-los, será estabelecida uma taxa transacional com valores reduzidos. Para que os agentes possam se familiarizar com a plataforma, a utilização será gratuita nos primeiros meses. “A criação da BRIX vem em momento muito propício, pois o crescimento econômico do Brasil traz diversas oportunidades, em particular ao mercado de energia. Com experiência no setor e uma proposta inovadora, vamos ajudar a fomentar no Brasil os benefícios que outros mercados já experimentaram a partir de ambientes eletrônicos de negociação de energia”, avalia Roberto Teixeira da Costa, sócio e presidente do Conselho de Administração da BRIX.

Fonte: ESTADÃO