Às vésperas da Segunda Conferência Internacional sobre Clima, Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável em Regiões Semiáridas (Icid 2010), que será realizada em agosto, em Fortaleza, a Fundação Centro de Ecologia e Integração Social (CIS) promove de 14 a 16 deste mês, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente, o Encontro das Áreas em Processo de Desertificação do Norte Cearense. O evento será no auditório da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), que fica na cidade de Sobral.

O Encontro vai discutir o grau de degradação e o processo de desertificação com a sociedade civil, instituições públicas e acadêmicas. O objetivo também é estabelecer um compromisso com indicadores que possam conter o avanço e abrandar a problemática da desertificação no Ceará. A realização do evento é uma articulação da Fundação CIS, dos comitês das bacias hidrográficas de Acaraú, Coreaú e Litoral, do Ponto Focal Estadual de Combate à Desertificação e da coordenação da Icid+18, por meio da vice-governadoria do Estado.

Dentre os objetivos principais do Encontro das Áreas de Desertificação do Norte Cearense estão a discussão da problemática no Ceará, a partir do olhar dos indicadores que caracteriza Irauçuba como uma das áreas de risco. A aproximação dos Comitês das Bacias Hidrográficas (CBH) da discussão dessa degradação e os impactos aos recursos hídricos, além do conhecimento de experiências mitigadoras do processo de desertificação em outras áreas do Nordeste, também estão na pauta do evento.

A justificativa maior para a realização do Encontro são as atividades socioeconômicas que usam de forma irracional os recursos naturais do Bioma Caatinga no Nordeste brasileiro, em especial no Norte do Ceará, que apresenta uma diversidade florística resultante da variedade das condições fitoecológicas. Essas ações irregulares têm contribuído para mudanças das características originais do meio e também para aumentar o estado de degradação.

Em função desse alto nível de exploração da capacidade dos recursos naturais e não havendo o restabelecimento da região, a sustentabilidade, que já é baixa, diminui ainda mais. E os efeitos da degradação passam a adquirir características quase irreversíveis, ocasionando a devastação e o mau uso dos solos, além de índices negativos do balanço hídrico. O exemplo da problemática citada acima é o município de Irauçuba, a 140 km da capital e que tem 1.451 quilômetros quadrados. Destes, 1.381 estão no território do semi-árido. Ou seja, 92,2%.

Como se pode facilmente notar, o referido município se encontra com quase a área total suscetível à desertificação. O território de Irauçuba representa 10,2% da área do Ceará. De acordo com cálculos preliminares da Fiocruz e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o avanço do processo de degradação de Irauçuba está associado às mudanças climáticas. E isso pode provocar uma redução de 11,4% na taxa de crescimento da economia nordestina até 2050.

Ainda segundo o estudo, as mudanças climáticas tendem a aprofundar a desertificação a partir de pesquisas sobre o Índice de Vulnerabilidade de Desertificação (IVD). Por esse índice, os pesquisadores chegaram à conclusão que 1% do Nordeste está sob risco elevado de desertificação. E o Ceará lidera o topo da lista, junto com Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia.

As práticas de intervenção do homem têm alterado os processos naturais, provocando desequilíbrios como a modificação do relevo a partir de diferentes formas de erosão, pobreza dos solos, vegetação e de condições hidrológicas, o que já causa o colapso de alguns recursos. Tal realidade é evidente por causa da modificação da paisagem. A degradação da terra ocorre pela degradação do solo, eliminação da camada fértil e ausência dos recursos hídricos. A junção dos dois fatores causa a degradação da biodiversidade com pobreza na vegetação e a diminuição da qualidade de vida da população.

MMA