Em seminário sobre o assunto, promovido pela Ramboll Environ e a CPEA, em Santos, no dia 24 de outubro, especialistas de empresas e de instituições comprometidas com a sustentabilidade destacaram o
A Ramboll Environ projetista e consultora de portos, com o apoio da consultoria CPEA, e da Acciona, construtora e gestora global de obras de infraestrutura, realizaram, dia 24 de outubro, o seminário “O porto, a cidade de Santos e as adaptações climáticas: como enfrentar os futuros desafios ambientais”. O evento reuniu especialistas nacionais e internacionais de empresas e instituições comprometidas com a sustentabilidade do planeta, a fim de discutir os impactos da intensificação das alterações climáticas sobre os portos, seus negócios e a sociedade.
“Decidimos realizar este encontro com o intuito de promover a discussão de um tema que já integra o cotidiano dos profissionais e das autoridades portuárias. As mudanças climáticas já são uma realidade”, afirma Eugenio Singer, presidente da Ramboll Environ no Brasil. Em sua avaliação é unânime a percepção da urgência de se conscientizar os diferentes agentes do setor e da sociedade sobre a necessidade de planejar agora as ações para os próximos 50 ou 100 anos, contemplando as alterações que a natureza deve impor à economia, aos negócios e ao estilo de vida das pessoas em um futuro que parece longe, mas está muito próximo.
O especialista internacional Doug Daugherty, diretor sênior da Ramboll Environ e representante dos EUA na PIANC (Associação Mundial de Infraestrutura de Transportes Marítimos), explicou que são perceptíveis modificações na geomorfologia de rios e mares, bem como o aumento das temperaturas, com a consequente ampliação dos períodos de secas em determinadas regiões globais. “Esta transformação do planeta precisa ser avaliada e trabalhada pelos diferentes elos da economia. Os portos estão certamente incluídos nisto, pois são a porta de entrada e saída do mercado”, afirmou Daugherty.
Para Sérgio Pompeia, presidente da CPEA, o que se verifica em Santos, por exemplo, é o aumento do nível do mar e a intensificação das ressacas e das enchentes . “Diante disso, é preciso definir que obras e demais medidas serão necessárias a curto, médio e longo prazo e incorporá-las no planejamento urbano e de crescimento do Porto, de forma a torná-las uma oportunidade de melhoria da cidade”, argumentou.
A professora do Instituto de Geociências da UNICAMP, Lucí Hidalgo Nunes, falou sobre projeções de aumento do nível do mar obtido por meio de um modelo de estudo, que apontou que a elevação pode chegar a até 23 cm em 2050 e a aproximadamente 45 cm em 2100, causando prejuízos relevantes à economia regional e nacional. “Santos abriga o maior e mais importante porto do País. Por isso, qualquer impacto ambiental local terá repercussões na economia nacional”, ressaltou a pesquisadora.
Esses resultados são oriundos de uma pesquisa recente desenvolvida por um grupo de pesquisadores de diversas instituições (CEMADEN, UNICAMP, INPE, USP, Instituto Geológico e Prefeitura de Santos), que envolveu, em uma de suas fases, formadores de opinião da sociedade santista, com representantes de diferentes setores do setor público, privado e ONG’s. Eles revelaram preocupação a partir do quadro demonstrado, e escolheram algumas medidas de adaptação à elevação do nível do mar, como a ampliação artificial das áreas de areia e construção de muros de retenção em determinadas áreas.
Em outros países, em contrapartida, inúmeros portos já se prepararam para o impacto das mudanças climáticas. Doug Daugherty, da Ramboll Environ, citou os portos de Los Angeles, San Diego, Long Beach e Vancouver, como exemplos de portos que têm bons planejamentos e processo de implantação sustentáveis, contemplando as alterações de clima em suas respectivas regiões.
O conceito de “porto Inteligente” é outra iniciativa exemplar em âmbito internacional no setor portuário. O especialista Bjarne Mathiesen, diretor da Área de Transportes da Ramboll, explicou que o porto inteligente é focado nos negócios e na sustentabilidade, contribuindo para propiciar melhor qualidade de vida às comunidades e o desenvolvimento econômico da região, sendo sustentável em todos os aspectos. “A gestão de portos caracteriza-se pela gestão de riqueza, ou seja, geração e administração de negócios. É preciso ter a administração da autoridade portuária, e também que o porto seja gerido para incrementar negociações e ser lucrativo. Por isso, governança é essencial e torna fundamental alinhar diferentes aspectos, como crescimento, a previsibilidade das operações, impactos das mudanças climáticas, a relevância para a economia e sociedade, a competitividade, a organização e a estratégia, sempre dentro de uma cultura criativa”, explicou.
Mathiesen listou ainda alguns mandamentos que devem ser seguidos por todos os gestores de portos para tornar o negócio bem-sucedido. O primeiro deles é monitorar a execução e atualizar o plano mestre com frequência. O segundo é deixar sempre muito claro que o porto pode e quer receber investimentos nacionais e internacionais. Em terceiro lugar, é preciso tornar todas as áreas portuárias disponíveis úteis. Para concluir as duas últimas recomendações são preservar os ativos e divulgar constantemente seus planos para os principais stakeholders.
O advogado Ludovino Lopes, especialista em questões ambientais da Ludovino Lopes Advogados, reforçou que as legislações sobre as questões ambientais vêm evoluindo rapidamente. “Enquanto o Protocolo  de Kyoto levou sete anos para ser colocado em prática (1998 a 2006), o acordo de Paris, no qual cada país estabeleceu seu próprio compromisso com a sustentabilidade, saiu do papel em nove meses”, destacou Lopes.
Esta evolução das questões ambientais se comprova pelo fato de o Brasil ter se comprometido a reduzir as emissões de CO2, por exemplo, em 37% até 2025, e em 43% até 2030, e já estar começando a impor metas para os mais diversos setores. “No âmbito internacional, o setor aéreo aprovou recentemente um modelo regulatório baseado em um mecanismo de mercado de redução de emissões e esforço próprio em eficiência energética e tecnológica, e o de portos deverá fazer  o mesmo em breve, porque representa de 2% a 3% das emissões de CO2 no mundo. Portanto, é premente preparar planos de longo prazo, considerando os novos desafios climáticos e de mercado; as diferentes legislações nacionais dos vários países e as regionais”, ressaltou Lopes. O advogado lembrou também que o Brasil como pais e pelo menos 17 estados subnacionais brasileiros já têm na pauta exigências relativas às mudanças climáticas, que em breve chegarão ao setor de transportes e por consequência  ao setor de transporte marítimo.
Tiago Cesar Benini, gerente de Segurança do Trabalho e Sustentabilidade da Acciona, destacou a necessidade de planejar o futuro do Brasil. “É fundamental pensar no longo prazo para tornar não só os portos, mas as cidades, os estados e também o País mais sustentável em termos econômicos, sociais e ambientais”, disse Benini.