A obra, da professora e etnolinguista Maria Cristina Fargetti, traz também estudos e partituras compostas pela cantora e compositora Marlui Miranda

Fala de bicho, fala de gente, apresenta a cultura juruna (grupo que vive no Parque Indígena do Xingu, no estado brasileiro do Mato Grosso) e traz uma análise feita pela professora Cristina Martins Fargetti com base em 49 cantigas de ninar desta etnia. O lançamento das Edições Sesc São Paulo acontece no dia 18 de abril, às 19h30, com um bate-papo entre a autora, a antrópologa Betty Mindlin e a musicista Marlui Miranda no Sesc Ipiranga, em São Paulo. Após o bate-papo haverá um pocket show com Marlui Miranda e banda, reconhecida como uma das mais importantes intérpretes e pesquisadoras da música indígena no Brasil.

Desde a década de 1980, a etnolinguista Cristina Martins Fargetti estuda a língua e a cultura do povo yudjá, mais conhecido entre os não-indígenas por juruna. Ao longo desses anos, ela adquiriu profundo conhecimento e proximidade com os membros da etnia, identificou particularidades culturais, como seu senso de humor característico e a presença de uma categoria de animais nomeada bichos-gente.

“Com Cristina Fargetti e Marlui Miranda, refletimos como é fundamental valorizar a oralidade em coexistência com a escrita e a notação musical. Fala, voz, melodia, canto de belos artistas que não escrevem nem leem viram arte a exibir, expressão tão preciosa como a de escritores e músicos. Afinal, todo mundo sabe cantar, mesmo os iletrados; mas quantos cantores e compositores populares dominam a passagem a partituras?”

Betty Mindlin, antropóloga e economista

Em Fala de bicho, fala de gente a autora apresenta o povo juruna e suas particularidades, discute aspectos antropológicos, linguísticos e procura definir o que difere gente de bicho-gente, distinção importante para que se compreenda boa parte das cantigas. Em seguida, traz um breve estudo sobre as cantigas de ninar e, mais especificamente, as características destas na cultura juruna. Além de todo o trabalho de pesquisa acadêmica, foram reunidas e gravadas num CD 49 cantigas de ninar, entoadas por mães e avós ao embalar suas crianças, resistindo, desse modo, ao processo de aculturação que ameaça os povos originários desde o contato com os brancos. A obra traz um cancioneiro, com a letra transcrita e a tradução das 49 cantigas recuperadas pela comunidade indígena, e segue com um capítulo escrito pela musicista Marlui Miranda, também responsável pela transcrição das partituras de todas as cantigas.

“É intenção do Sesc que, a exemplo dos demais livros em sua linha de cultura indígena e como de outras iniciativas do Programa Diversidade Cultural, esta obra possa promover o reconhecimento, o respeito e a preservação de identidades, bem como do patrimônio material e imaterial dos diferentes grupos étnicos e sociais em nosso país”.

Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc São Paulo