“Não vou conseguir ver o filme. Iria chorar muito.”

As palavras do diretor Breno Silveira (“2 Filhos de Francisco”), minutos antes da primeira exibição de seu novo filme, o drama “À Beira do Caminho”, poderiam ser mais uma daquelas frases de efeito para chamar a atenção.

Mas não há um pingo de mentira nas palavras de Silveira, que apresentou o longa na abertura da 16ª edição do Cine PE, o festival de cinema de Pernambuco, na quinta (26), em Olinda.

Antes mesmo da música “A Distância”, de Roberto Carlos, pipocar no drama sobre João, um sujeito (João Miguel) que dirige um caminhão nas estradas do Brasil para tentar superar a morte da mulher, o cineasta pede licença discretamente para seu elenco presente e caminha para fora do teatro Guararapes.

Gabriela Barreto/Divulgação
O ator Vinícius Nascimento em cena do filme "À Beira do Caminho"
O ator Vinícius Nascimento em cena do filme “À Beira do Caminho”

“É um filme sobre um homem reaprendendo a amar depois de uma grande perda. Ele me provoca uma emoção profunda”, conta, com a voz embargada, o diretor carioca, que sofreu uma tragédia ao perder, ano passado, a mulher, Renata –a quem “À Beira do Caminho” é dedicado.

“Foi um filme muito difícil para mim. Não consegui entrar na ilha de edição por muito tempo, porque eu virei o João. Foi uma coincidência muito cruel.”

Cruel porque a ideia do argumento veio bem antes. A jornalista Léa Penteado, em 2008, juntou frases de músicas diferentes de Roberto Carlos e apresentou a Silveira.

Do título inspirado em “Sentado à Beira do Caminho” à inclusão de quatro músicas, o filme é quase um retrato cinematográfico de uma canção do cantor.

O longa é uma jornada emocional ancorada pelas interpretações de Miguel e do pequeno Vinícius Nascimento, escolhido entre 500 crianças para viver o garoto que pega carona com o caminhoneiro e muda a vida dele.

“Gosto de provocar emoção. Nunca vou dirigir um thriller ou um filme de ação”, fala Silveira. “Mas não sei se ‘À Beira do Caminho’ será tão popular quanto ‘2 Filhos’.”

A emoção na première do filme na abertura do Cine PE, apesar dos aplausos abundantes do público, foi prejudicada por problemas nos canais de som da sala.

Os diálogos, muitas vezes, ficavam incompreensíveis durante a projeção digital. “Fiquei muito frustrado, chorei e tentei parar a projeção.”

“Nem eu conseguia me entender. Passamos a noite sem dormir por causa disso”, completa o ator João Miguel. “Mas o público entendeu mesmo não entendendo.”

“Vamos repetir a exibição do filme no festival com as condições técnicas desejáveis”, disse o diretor do festival, Alfredo Bertini.

O jornalista RODRIGO SALEM viajou a convite da organização do festival