Comunicado final vago do encontro das 20 maiores economias do planeta decepciona os mercados, que caem

Esperava-se divulgação de aumento de recursos para o FMI enfrentar os problemas de países como Grécia e Itália

Jewel Samad/France Presse

Sob chuva, presidentes dos EUA, Barack Obama, e da França, Nicolas Sarkozy, participam de evento na reunião do G20

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

O G20 adiou para o mês que vem, em reunião de seus ministros de Economia e presidentes de Banco Central, a definição do que tanto Barack Obama como Dilma Rousseff chamaram de “firewall”, ou corta-fogo, para evitar o contágio da crise da dívida a economias grandes como Itália e Espanha.
A indefinição gerou quedas, ainda que moderadas, nas Bolsas europeias: Frankfurt caiu 2,72%, Paris, 2,25% e Londres, 0,33%. A Bovespa teve ligeira alta (0,81%).
O corta-fogo deveria vir na forma de um aumento espetacular de recursos para o Fundo Monetário Internacional para que este o emprestasse aos países necessitados.
Mas não houve acordo mínimo em torno do volume de recursos, o que seria crítico para acalmar os mercados.
O documento final diz apenas que o G20 “assegurará que o FMI continue a ter recursos para desempenhar seu papel sistêmico em benefício do conjunto de seus membros, em complementação aos substanciais recursos que já mobilizamos desde Londres-2009”.
Foi o ano da cúpula de Londres, em que o grupo colocou à mesa imponente US$ 1 trilhão, dos quais US$ 750 bilhões apenas para o FMI. Essa pilha de dinheiro desempenhou papel fundamental na contenção do que o próprio Fundo batizara de “A Grande Recessão”.
A ausência de números no comunicado final causa uma sensação de “sucesso relativo”, na avaliação de Dilma, obrigada, por dever de ofício, a não falar em fracasso.
A descrição de Obama do estado da economia mundial induz, no entanto, a acreditar que o resultado do G20 foi pífio: “As economias emergentes estão começando a desacelerar. A demanda global está se enfraquecendo. No mundo, centenas de milhões de pessoas estão desempregadas ou subempregadas [os desempregados são 200 milhões]. O mundo enfrenta desafios que põem a recuperação econômica em risco”.
O texto final também fala de uma situação econômica complicada: “Desde nosso encontro mais recente, a recuperação global se enfraqueceu, particularmente nas economias avançadas, deixando o desemprego em níveis inaceitáveis. Nesse contexto, tensões nos mercados financeiros aumentaram, devido, principalmente, aos riscos [da dívida] soberana na Europa; há também claros sinais de desaceleração do crescimento nos mercados emergentes.”
O capítulo em que houve avanço nítido foi na regulação dos bancos chamados “grandes demais para quebrar” (são 29, nenhum deles brasileiro). A quebra de um deles em 2008, o Lehman Brothers, foi o catalisador da “Grande Recessão”.
Os “bancões” estarão submetidos a uma supervisão reforçada e um novo padrão de regime de dissolução, para evitar que a conta acabe caindo nos bolsos dos contribuintes. A partir de 2016, haverá ainda exigência de capital adicional, para garantir um colchão de recursos próprios no caso de inadimplências em grande escala.