JOSÉ CARLOS GRUBISICH
ESPECIAL PARA A FOLHA

Fruto de uma história de sucesso que se iniciou em meados dos anos 1970 e se fortaleceu pelo lançamento dos motores flex, o etanol de cana-de-açúcar se consolidou como componente estratégico e alternativa competitiva e sustentável, projetando um futuro promissor de crescimento.
A fatia do mercado conquistada nos últimos anos é extraordinária: desde 2009, o etanol é mais consumido do que a gasolina nos veículos flex.
Segundo dados da Unica (União das Indústrias de Cana-de-Açúcar), na última safra esse volume atingiu quase 25 bilhões de litros, dos quais 7 bilhões de litros são de etanol anidro, que é misturado à gasolina.
Estima-se que em 2020 o consumo potencial de etanol atinja 50 bilhões de litros. Para atender essa demanda, o setor de bioenergia deverá investir pelo menos US$ 50 bilhões e expandir seus canaviais em 4,5 milhões de hectares.
Por outro lado, o crescimento da oferta foi afetado pela crise internacional de 2008.
Com ela, parte das empresas desacelerou seu ciclo de investimentos, diminuindo os planos de expansão de capacidade produtiva já anunciados. A escassez de recursos gerou também baixa produtividade dos canaviais já existentes, por conta da diminuição da aplicação de insumos. Além disso, a renovação dos canaviais foi adiada.
Temos uma visão clara do papel esperado do etanol nos próximos anos, e a decisão recente do governo de conceder o mandato à ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) para analisar a cadeia produtiva do etanol é o reconhecimento do papel fundamental que o biocombustível conquistou na matriz energética brasileira.
A ANP tem experiência e os instrumentos para acompanhar toda a cadeia de valor do etanol: desde a produção de cana até a distribuição e a estocagem.
Juntos, os esforços do poder público e da iniciativa privada trarão resultados positivos na administração do abastecimento, além da criação de condições econômicas e financeiras que garantirão a expansão da produção do etanol no médio e longo prazos.
O maior desafio do etanol brasileiro não é, entretanto, o abastecimento no curto prazo -assunto bastante discutido nos últimos meses. Esse desafio é a retomada imediata de investimentos e a definição de condições econômico-financeiras para dar suporte ao programa de expansão que garantirá o abastecimento do mercado nacional, consolidando o etanol da cana-de-açúcar como alternativa mais competitiva e sustentável à matriz energética do país.

fonte: Folha de SP