Os modernos gases utilizados em refrigeradores, que foram desenvolvidos com o objetivo de proteger a camada de ozônio, devem se tornar um fator importante para a aceleração do aquecimento global devido ao futuro crescimento explosivo que devem registrar nos países em desenvolvimento, avaliam cientistas.

Os gases conhecidos como hidrofluorcarbono, ou HFC, foram desenvolvidos para substituir os gases anteriormente utilizados em refrigeradores, porque estes exerciam efeito destrutivo sobre a camada de ozônio. A substituição foi uma das principais realizações do Protocolo de Montreal para o combate à destruição da camada de ozônio.

Mas esses gases podem ser centenas ou milhares de vezes mais poderosos do que o dióxido de carbono em termos de potencial de aprisionamento de calor. O HFC é utilizado tanto em refrigeradores quanto em aparelhos de ar condicionado e as projeções são de que seu uso se amplie vigorosamente ao longo das próximas décadas.

No novo estudo, uma equipe dirigida por Guus Velders, da Agência de Avaliação Ambiental da Holanda, em Bilthoven, analisou as mais recentes tendências do setor de refrigeração e depois modelou a produção de HFC no ano de 2050. Os resultados dos cálculos da equipe sugerem que as emissões mundiais de HFC podem atingir o equivalente a entre 5,5 bilhões e oito bilhões de t de dióxido de carbono ao ano, por volta de 2010 – o equivalente, a grosso modo, de cerca de 19% das emissões projetadas de dióxido de carbono naquele ano, caso a expansão nos gases causadores do efeito-estufa continue a acontecer sem controle.

Os novos números alimentarão os esforços dos ambientalistas e de outros grupos que vêm pressionando pela implementação de novos e agressivos regulamentos quanto ao uso do HFC. Os fabricantes poderiam realizar uma transição que envolveria o uso das formas de HFC com o menor impacto climático possível, enquanto preparam a entrada em operação de uma nova geração de gases de refrigeração – que ainda estão em desenvolvimento e cujo efeito sobre o clima e a camada de ozônio será nulo.

“Estamos vivendo o momento exato para tomar uma decisão que conduziria esse processo na direção desejada”, afirmou Velders. “Os países em desenvolvimento já estão conduzindo sua transição para a adoção do HFC em seus equipamentos de refrigeração”.

Ainda que o estudo não apresente recomendações formais de política, pode desempenhar um papel influente no debate governamental em curso sobre a regulamentação do uso de produtos químicos. Os HFC estão enquadrados aos termos acordados no Protocolo de Quioto sobre o combate à mudança climática, mas os defensores de regulamentação mais severa afirmam que a maneira mais rápida e mais barata de tratar desses compostos é enquadrá-los ao tratado referente aos gases que afetam a camada de ozônio.

Os delegados às discussões sobre o Protocolo de Montreal planejam discutir o tema em sua próxima reunião, marcada para este mês em Genebra. Durwood Zaelke, que comanda o Instituto pela Governança e Desenvolvimento Sustentável, uma organização sem fins lucrativos que promove causas ecológicas em Washington, diz que o estudo conduzido por Velders confirma os potenciais benefícios da adoção de regulamentação quanto ao HFC nos termos do Protocolo de Montreal.

Ele diz que o estudo ajudará a criar o ímpeto necessário para promover mudanças quando os delegados estiverem se aproximando do momento de decidir quanto a esse tema, em novembro.

O Protocolo de Montreal, que entrou em vigor em 1989, conta com especialistas que supervisionam a implementação de seus termos em virtualmente todos os países do mundo, e já obteve sucesso em reduzir por 97% a utilização de cada um de 96 diferentes produtos químicos sobre os quais exerce fiscalização, diz Zaelke. “É um retrospecto vitorioso, e precisamos oferecer uma oportunidade para que o tratado possa continuar a manter esse histórico de realizações”.

Em 2007, a equipe de Velders estudou o efeito do Protocolo de Montreal sobre as emissões de gases prejudiciais à camada de ozônio e constatou que as reduções incidentais que o tratado havia propiciado nas emissões de gases responsáveis pelo efeito-estufa – que equivalerão a 11 bilhões de t anuais de dióxido de carbono em 2010 – eram em média cinco a seis vezes superiores às do Protocolo de Quioto.

Os signatários do Protocolo de Montreal já concordaram em eliminar de vez o uso dos clorofluorcarbonos (CFC) até 2010, e o do HFC até 2040, mas o estudo de Velders pode ajudar a convencê-los a acelerar a retirada deste último gás em cerca de uma década, a fim de aproveitar melhor os benefícios da medida para o clima.

O mais recente estudo leva adiante o trabalho anterior do grupo holandês e sugere que o problema que o HFC pode representar talvez seja muito mais grave do que o estimado pelo Painel Intergovernamental sobre A Mudança Climática (IPCC) da ONU, em sua avaliação mundial de 2007. Com base em cenários econômicos básicos providos pelo IPCC, o novo estudo presume que as tecnologias de refrigeração em uso generalizado terão nível semelhante às empregadas hoje nos países desenvolvidos.

Pela metade do século, as emissões dos atuais países em desenvolvimento seriam oito vezes superiores às dos países desenvolvidos. Venkatachalam Ramaswamy, um dos autores do relatório do IPCC e coordenador do capítulo sobre os HFC, que não participou do estudo de Velders, o define como “um excelente trabalho”.

“Ele eleva a importância do HFC em termos de clima, conduzindo-o a um patamar mais elevado do que aquele que havíamos calculado inicialmente”, diz Ramaswamy, cientista do Laboratório Geofísico de Dinâmica de Fluidos, em Princeton, Nova Jersey, parte da Administração Nacional da Atmosfera e Oceano (NOAA) norte-americana. Ainda assim, diz ele, “isso não deveria afastar nossas atenções da situação do dióxido de carbono e do metano”.

Tradução: Paulo Migliacci ME
New York Times