Para tentar reverter o aumento da criminalidade e a queda no número de turistas no Pelourinho, um dos principais cartões-postais de Salvador, o governo da Bahia e a prefeitura decidiram gastar R$ 3 milhões em pontos de luz.

O objetivo é aumentar a sensação de segurança na área, afastando pedintes e criminosos. O número de policiais local, entretanto, foi mantido em 30% do ideal, segundo o governo Jaques Wagner (PT).

Tombado pela Unesco, braço cultural da ONU, como patrimônio da humanidade, o centro histórico da cidade chegou ao “fundo do poço”, nas palavras do prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB).

Nos últimos cinco anos, a região registrou queda de 50% no fluxo de turistas, de acordo com estimativas de empresários, guias turísticos e taxistas.

Os investimentos do governo estadual e da prefeitura em 200 pontos de luz são elogiados por especialistas em segurança, que, contudo, veem a medida como “pontual e isolada”.

“Defendo a iluminação como um item de segurança, mas a presença do policial não pode ser descartada. Ela incentiva a ocupação social e cultural da região”, diz a professora Ivone Costa, que coordena um grupo de estudos sobre segurança na Universidade Federal da Bahia.

Para comerciantes e taxistas do Pelourinho consultados pela reportagem, a iluminação não reduziu o número de pedintes e assaltos na região, sobretudo em uma área ocupada por usuários de crack. O governo diz não ter estatísticas criminais para a região.

Turistas preocupados

Apesar da decadência, o Pelourinho é o ponto mais visitado da cidade, mas preocupa quem chega a Salvador. O atacadista paulistano Robson Alves, 24, conta que, no caminho do aeroporto até a região, foi alertado por quatro pessoas sobre a insegurança no lugar. Ao lado da namorada, disse estar “apreensivo”.

Pesquisa de 2007 apontou que 60% de moradores de Salvador só visitam a região para levar turistas. Os turistas reclamam da falta de policiais e de abordagens agressivas de pedintes e vendedores.

A violência não é um problema restrito ao centro histórico. A capital baiana registrou aumento de 31% no número de homicídios no primeiro semestre de 2009, em relação ao mesmo período de 2007.

Funcionário de um hotel no Pelourinho, o argentino Gustavo Domingues, 40, relata que turistas que planejam permanecer até cinco dias na região “vão embora assustados em, no máximo, dois dias”.

Sem turistas, cerca de 90 dos 450 estabelecimentos, como restaurantes e lojas, estão à venda ou fechados. Comerciantes pedem ao governo o perdão de R$ 5,4 milhões em dívidas. Lenner Cunha, presidente da Associação dos Comerciantes do Pelourinho, pede a conclusão da revitalização do local.

Atualmente, o governo executa a sétima etapa do projeto, que prevê a construção de mais de cem habitações para funcionários públicos.

Outro lado
Responsável pela gestão cultural e patrimonial do Pelourinho, o secretário da Cultura da Bahia, Márcio Meirelles, nega a decadência do local e contesta a queda de 50% no movimento estimada pelos comerciantes do local. “Trabalho aqui todos os dias e não vejo nada disso de que tanto reclamam. Os turistas continuam vindo como sempre vieram”, afirma.

A agenda cultural e a preservação do patrimônio histórico do Pelourinho são responsabilidade de órgãos ligados à pasta, como o Ipac (Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia) e a Fundação Cultural do Estado da Bahia, sediados no centro histórico.

Questionado sobre a falta de policiamento e a incidência de assaltos na região, Meirelles afirma que os crimes do tipo não ocorrem só no Pelourinho, mas “em todo lugar da cidade”.

O secretário também criticou os comerciantes que, segundo ele, “não se movimentam para atrair turistas”. “O cara não pode ficar ali esperando algo do governo. Ele tem de repensar o negócio dele, que às vezes não tem o que acrescentar ao lugar.”

Sobre a nova iluminação, Meirelles disse que o governo trata o Pelourinho como uma parte da cidade, e “não com lógica de shopping center, para atrair clientes a um oásis”.

“Nosso objetivo é recompor o tecido urbano, e não realizar medidas pra turista achar bonito.” Segundo o governo, o projeto “Tô no Pelô” fará até abril de 2010 cerca de 130 shows e ações de cidadania na região.

Matheus Magenta
Agência Folha