A Grécia se vê obrigada a ratificar no Parlamento “até o fim de 2011” o plano de resgate concluído no fim de outubro em Bruxelas, e seus parceiros da Zona Euro “não esperarão”, afirmou neste sábado o porta-voz grego Ilias Mosialos.

“Segundo o calendário não negociável da decisão do Conselho Europeu, o novo acordo de empréstimo deve ser aprovado mediante uma votação no Parlamento até o fim de 2011, nossos parceiros europeus não nos esperarão (…), não podemos perder um dia”, afirmou Mosialos, justificando assim a insistência do primeiro-ministro, Giorge Papandreu, em formar um governo de transição, em vez de convocar eleições, para enfrentar a crise no país.

Entretanto, o Executivo deverá também apresentar “até 20 de novembro” seu projeto de orçamento 2012, para que seja votado no Parlamento “até 22 de dezembro”, completou, citado em comunicado.

Mosialos comentava a reação do líder da oposição de direita, Antonis Samaras, que acabava de se negar novamente a participar em um governo de unidade com as condições apresentadas pelos socialistas. Samaras propôs a organização de eleições antecipadas “imediatas”.

O porta-voz também criticou Samaras, por ter hesitado em apoiar o plano de Bruxelas, apoio que se propôs a dar pela primeira vez na quarta-feira.

“Samaras tentou promover uma separação entre o que nossos parceiros nos dão e o que nos pedem (…), querem o dinheiro europeu e reduzir a dívida, mas não querem dividir a responsabilidade (…) das medidas difíceis que precisam ser tomadas”, afirmou.

REJEIÇÃO

Hoje, o líder da oposição da Grécia rejeitou neste sábado a proposta do primeiro-ministro George Papandreou de formar um governo de coalizão e reiterou sua exigência de eleições antecipadas.

“Insistimos no pedido de imediatas eleições [legislativas] para sair o mais rápido possível deste pesadelo”, exclamou Samaras às câmeras de televisão na sede de seu partido. “Papandreou envergonhou ontem o Parlamento [quando o Legislativo teve de votar uma moção de confiança ao governante]”.

John Kolesidis/Reuters
Primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, chega ao palácio presidencial, em Atenas, neste sábado

Em mensagem implícita dirigida aos parceiros europeus, o oposicionista destacou que seu partido está disposto a aceitar o acordo pactuado em Bruxelas na semana passada, que inclui um segundo resgate financeiro para evitar a quebra da Grécia e um perdão de 50% da enorme dívida do país, em troca de maiores medidas de austeridade econômica.

A Nova Democracia se mostrou disposta a aprovar o acordo, mas só com um governo transitório, sem Papandreou, que permita a adoção dos compromissos pactuados com a zona do euro e convoque eleições legislativas antecipadas.

“O país precisa de um governo forte e do apoio do povo, por isso pedimos eleições imediatas”, declarou o líder opositor.

George Papandreou declarou neste sábado, depois de se reunir com o presidente do país, Karolos Papoulias, que avança nas negociações para formar um governo de coalizão.

“No próximo período, vou realizar reuniões com esse objetivo”, disse Papandreou à imprensa após um encontro de 45 minutos com o chefe de Estado no Palácio Presidencial.

Papandreou chegou à residência do presidente grego horas após ganhar por escassa margem um voto de confiança no Parlamento na madrugada deste sábado. “Farei o possível para formar um governo de ampla cooperação”, disse o premiê ao chegar ao palácio presidencial.

“Meu alvo é criar imediatamente um governo de cooperação”, disse ele ao presidente, na presença de repórteres, antes de os dois líderes iniciarem conversas a portas fechadas. “Uma falta de consenso preocuparia nossos parceiros europeus a respeito da vontade de nosso país de permanecer na zona do euro”.

Durante o encontro, Papandreou ressaltou que o cumprimento da Grécia com os compromissos estipulados com os parceiros europeus representa uma condição para que o país se mantenha na zona do euro.

O premiê também disse ao presidente Karolos Papoulias que a Grécia tem de evitar antecipar as eleições. Mais cedo, o líder da oposição grega, Antonis Samaras, do partido conservador Nova Democracia, já havia pedido eleições antecipadas, considerando que elas são a “única solução” para a crise do país.

Sem dizer quando pode sair, Papandreou, que liderou a Grécia por dois anos de turbulência política, econômica e social, disse que está pronto para discutir quem deve liderar o governo que comandaria até as eleições, provavelmente no começo do próximo ano.

VOTO DE CONFIANÇA

Em uma manobra vista como crucial para garantir o acordo de ajuda financeira assinado entre a Grécia e a “troika” formada pela União Europeia (UE), Banco Central Europeu (BCE) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), George Papandreou obteve um voto de confiança no Parlamento na madrugada deste sábado por uma margem muito apertada.

Com 153 votos a favor e 147 contra, o premiê obteve apoio dos parlamentares após uma intensa semana de negociações e altos e baixos durante as discussões entre seu governo, a oposição e os europeus, que chegaram a convocá-lo para uma reunião emergencial em Cannes na quarta-feira após ele ter anunciado a ideia de propor um plebiscito sobre o pacote de ajuda –posteriormente rejeitado.

ENTENDA

O anúncio do premiê grego de que iria submeter o pacote de resgate a um referendo popular –depois cancelado– ameaçou intensificar a crise da zona do euro, gerou críticas de líderes europeus, derrubou as principais bolsas e levou a oposição pedir a saída de Papandreou.

“Este anúncio pegou a Europa inteira de surpresa”, disse Sarkozy. “O plano é a única maneira de resolver o problema da dívida da Grécia.”

Os líderes da zona do euro concordaram, no dia 26 de outubro, em conceder a Atenas um segundo pacote bilionário de resgate e um corte de 50% em sua dívida. Em contrapartida, a Grécia deve se comprometer em continuar com uma política de cortes de gastos como privatizações, redução de empregos públicos e cortes salariais.

Editoria de Arte/Folhapress