Investigação feita pela Polícia Federal mostra que os sistemas criados pelos governos para controlar a extração de madeira se transformaram, ao longo dos anos, em pista livre para “esquentar” o produto retirado ilegalmente, permitindo a legalização de planos de manejo de florestas “até no oceano”.

De acordo com a PF, planos de manejo fictícios, autorização de desmatamento e guias de transporte florestal fraudadas, além do comércio paralelo de créditos florestais, foram algumas das práticas adotadas por quadrilhas especializadas em “legalizar” madeira.

“O sistema representou um grande avanço, mas é preciso mais transparência. Mexer na gestão florestal. Hoje, a segurança existente é para inglês ver”, avaliou o delegado Franco Perazzone, que liderou por dois anos as investigações da Operação Jurupari, deflagrada semana passada no Mato Grosso. “A forma de ação é muito semelhante. Seja aqui, seja em outro estado”, disse. “Na forma atual, é possível conseguir plano de manejo até no oceano”, afirmou o delegado da Polícia Federal Marcelo Sálvio Rezende Vieira.

O Sistema Informatizado de Gestão de Produtos Florestais (Sisflora) foi criado em 2006 para substituir as Autorizações de Transporte de Produtos Florestais, alvo fácil de adulteração. O formato, estadual, está em funcionamento no Mato Grosso, Pará, Rondônia e Maranhão. Há também o sistema federal, o Documento de Origem Florestal que, na avaliação de Perazzone, apresenta deficiências semelhantes. “O sistema se modernizou. E a fraude também, com a diferença que agora ela conta também com engenheiros e servidores públicos.”

Irregularidades
As estratégias para legalizar a madeira ilegal são inúmeras. Começam por plano de manejo fictícios preparados com base em fotos antigas ou imagens de satélite de outras propriedades. “Cheguei a ver inventários florestais padrão. Com mesma descrição, com mesma quantidade de madeira para mais de uma propriedade”, contou Perazzone.

Para fazer o plano de manejo florestal fraudulento, proprietários se valem de engenheiros integrantes de esquemas. “Já vi casos de engenheiros fazerem 50, 60 planos simultaneamente”, contou Glauco Saraiva, coordenador-geral da Operação Arco de Fogo, desencadeada há dois anos na região campeã de desmatamento na Amazônia. “Algo difícil de se conseguir, pois envolve inventário florestal, que é bastante trabalhoso.”

A partir dos achados das operações, Perazzone fez uma série de observações sobre as falhas e as encaminhou para Ministério Público. “O ideal é fazer ajustes no sistema. Caso contrário, dificilmente as fraudes vão parar.”

Globo Amazônia