Projeto prevê contratação de 100 mil funcionários, mais da metade do empregado pelo setor eletrônico do Brasil

Foxconn, que faz na China o tablet da Apple, fala em montar “cidade inteligente” no Brasil, em local não definido

Kin Cheung – 26.mai.2010/Associated Press

Funcionários trabalham em fábrica da Foxconn em Shenzhen, na China

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM
CAMILA FUSCO
DE SÃO PAULO

A empresa taiwanesa Foxconn planeja investir US$ 12 bilhões (R$ 19 bilhões) no Brasil nos próximos cinco anos para produzir displays (telas de computador e tablets), informou a presidente Dilma Rousseff.
O plano foi detalhado a Dilma durante encontro com Terry Gou, presidente e fundador da Hon Hai, controladora da Foxconn, que fabrica o iPad. Ele também informou ter acertado com Steve Jobs, da Apple, a montagem dos tablets no Brasil a partir de novembro.
Conforme a Folha antecipou no sábado, os primeiros contêineres de componentes para o iPad devem chegar ao Brasil em até dois meses.
O projeto prevê 100 mil funcionários, do quais 20 mil engenheiros e 15 mil técnicos, explicou o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que diz estar negociando com a empresa chinesa há três meses.
A Foxconn acenou ainda com a construção de uma “cidade inteligente”, em local a ser definido, para acomodar a fábrica e os funcionários da empresa, fornecedora de marcas como Nokia, Motorola e BMW, além da Apple.
“Tem de garantir banda larga, energia, estrutura, acesso a aeroporto, estradas, tem questões alfandegárias, processuais, o marco legal, e haverá sócio brasileiro”, afirmou Mercadante.
“Estamos falando de uma cidade de 400 mil pessoas que vai ser criada. Ele [Gou] quer fazer uma cidade com toda a parte de medicina digitalizada, iluminação de última geração.”
O Brasil importa anualmente US$ 3 bilhões em displays, só produzidos em três países do mundo (Japão, Coreia do Sul e China).

VIABILIDADE
Apesar da euforia do governo, a própria indústria questiona os investimentos.
“Todo o setor de eletroeletrônicos emprega 172 mil pessoas. É difícil acreditar que um fabricante contratará 100 mil”, diz Humberto Barbato, presidente da Abinee (Associação Brasileira das Empresas Eletroeletrônicas).
Se o número for confirmado, a Foxconn vai enfrentar problemas de mão de obra. Estima-se que o deficit de profissionais para o setor chegará a 92 mil pessoas em 2011 e 750 mil até 2020.
Para Ivair Rodrigues, da consultoria IT Data, o investimento é estranho diante do perfil da Foxconn. Empresas de montagem de equipamentos -que não investem em pesquisa- costumam ter aportes baixos, sobretudo em galpões e máquinas.
“Com US$ 12 bilhões seria possível construir três fábricas de chips da Intel”, diz.
Rodrigues questiona ainda a viabilidade de uma produção como a anunciada pela Foxconn diante do real forte. Para ele, com o dólar abaixo de R$ 1,60, fica difícil produzir outros eletrônicos que não PCs, que têm incentivos.
Duas outras empresas chinesas de telecomunicações anunciaram planos para o Brasil. A ZTE quer investir US$ 250 milhões numa fábrica em Hortolândia (SP). Já a Huawei planeja um centro de pesquisa de até US$ 350 milhões em Campinas.

fonte: Folha de SP