O governo japonês afirmou que não pretende encerrar seu programa de caça científica de baleias, mesmo que um acordo internacional para regulamentar a captura desses animais seja fechado no mês que vem.

A declaração foi dada pela embaixada japonesa, em resposta a perguntas da Folha.

O país que mais caça baleias no mundo afirmou, no entanto, que está considerando uma proposta para incluir observadores a bordo de sua frota baleeira e realizar exames de DNA nos animais capturados.

O objetivo das medidas é garantir que não haja caça além da quota e que não sejam capturadas espécies ameaçadas, como a baleia-azul (o maior animal que já habitou a Terra), ou cujos estoques não sejam conhecidos em alguns lugares, como a jubarte (espécie que dá “braçadas” no ar quando salta).

A adoção do esquema de vigilância é um dos grandes pontos de um acordo que está sendo negociado e que pode levar à liberação da caça, com limites.

A proposta é do chileno Cristián Maquieira, presidente da CIB (Comissão Internacional da Baleia). Será debatida no fim de junho, na reunião da CIB, em Marrocos, e é foco de negociações diplomáticas intensas.

Ela prevê que a captura de baleias seja liberada por dez anos e estabelece uma quota de captura global de algumas centenas de exemplares por ano.

Um ponto polêmico é dar ao Japão uma quota de 400 baleias minke ao ano na Antártida, que se reduziria a 200 após cinco anos. Hoje, o oceano Austral é oficialmente um santuário de baleias, mas o Japão se permite caçar 900 animais ao ano ali, sob a desculpa de “pesquisa científica” relatada à CIB.

Trata-se de uma forma que o país encontrou de driblar a moratória imposta pela CIB à caça comercial em 1986, denunciada ano após ano por vários países – o Brasil, inclusive – como caça comercial disfarçada. A carne de baleia do programa “científico” abastece restaurantes e mercados no país.

O acordo proposto por Manquieira prevê a eliminação, pelos seus dez anos de vigência, de “caça à baleia determinada unilateralmente sob permissão especial, objeções e reservas”.

A formulação tem três endereços certos: “permissão especial” é o caso da caça japonesa; “objeções”, da caça islandesa; e “reservas”, da Noruega, segundo maior caçador _que mata metade do número de baleias que o Japão mata.

“O Japão não tem tal ideia”, afirmou a embaixada, questionada sobre se o país consideraria pôr fim à pesquisa letal.

Segundo o governo japonês, a caça no oceano Austral e no Pacífico Norte acontece para “atender a objetivos científicos, como remover incertezas em torno dos dados científicos em relação aos recursos baleeiros, mas não para atender à demanda por carne”.

Pressão total

Japão tem motivos para considerar a proposta de Maquieira: poucas vezes o país esteve sob pressão internacional tão forte para largar seu hábito de comer cetáceos.

A frota baleeira japonesa tem sido perseguida em águas antárticas pela ONG Sea Shepherd, que neste verão conseguiu impedir que ela cumprisse sua quota de captura. O embate levou à prisão de um ativista, que será julgado no Japão.

O governo da Austrália ameaçou neste ano adotar medidas legais contra o Japão caso o país não acabe com seu programa de caça científica.

Por fim, até Hollywood se engajou: neste ano, o Oscar de melhor documentário foi para o filme “A Enseada”, de 2009, que denuncia o massacre de golfinhos no país. Para a embaixada, “o governo japonês não está em posição de dizer se ele teve ou não impacto negativo sobre a sociedade japonesa”.

FSP