elo menos alguém está se dando bem com a temida mudança climática. As marmotas, mamíferos que ficaram famosos pela tradição de “prever o tempo” nos Estados Unidos, cresceram, ficaram mais fortes e numerosas.

Norte-americanos cultivam a crença de que no tradicional Dia da Marmota, 2 de fevereiro, é possível descobrir se o inverno será longo ou curto. Se uma marmota deixar sua toca neste dia num momento em que o sol está forte, enxerga sua própria sombra e volta para a toca, isso significaria que o período de frio vai se prolongar.

Nenhuma pesquisa comprovou se as marmotas realmente conseguem prever o tempo, mas o novo estudo mostrou o contrário: o clima influencia bastante a vida desses animais. O trabalho sai na edição desta semana da revista “Nature”, assinado por pesquisadores do Reino Unido e EUA. Eles se basearam em 33 anos de monitoramento (1976-2008) de uma população de marmotas-de-barriga-amarela (Marmota flaviventris) no Colorado.

A marmota tem um longo período de hibernação durante o inverno, de cerca de seis meses, quando chega a perder até 40% de seu peso.

O que ocorre com o aquecimento global é que muitas regiões ficam cobertas de neve por menos tempo. Isso, aliado a outros fatores climáticos ligados a temperaturas mais quentes, faz os animais acordarem antes. Logo em seguida –cerca de um mês depois–, fazem seu acasalamento, e seus filhotes também nascem logo.

Com mais tempo para comer, as marmotas crescem e engordam mais antes do próximo inverno e hibernação. A pesquisa revelou que as marmotas adultas (2 anos ou mais) passaram de cerca de 3,1 kg para 3,4 kg em média, da primeira para a segunda metade do acompanhamento.

Essa mudança mostrou-se proveitosa para a sobrevivência das marmotas: mais fortes, a mortalidade entre os adultos caiu.

E isso levou a um “repentino aumento no tamanho de sua população”, descreve o estudo. Afinal, se a média era aumento de cerca de uma marmota a cada dois anos, a partir de 2001 a comunidade passou a ganhar 14 marmotas por ano.

Raridade e sorte

Apesar da aparente “sorte” da marmota, Karen Regina Suassuna, especialista em políticas públicas em mudança climática da ONG WWF-Brasil, diz que pode ser uma exceção, já que o último relatório do painel do clima da ONU (IPCC) alerta para extinções maciças caso a temperatura suba mais de 2ª C até o fim do século..

De todo modo, como há variações por espécies, é importante que as poltícias de conservação acompanhem esses estudos, avisa ela.

Marcel Visser, do Instituto de Ecologia da Holanda, em resenha sobre o artigo, destaca que são raras demonstrações como essa, explicando como o aquecimento global afeta as populações.

Em estudos similares, os animais não tiveram tanta sorte: mostraram por exemplo diminuição do tamanho de ovelhas das ilhas escocesas de Santa Kilda; declínio de uma população de pinguins-imperadores, e também de lagartos de regiões equatoriais.

Com os dados positivos relacionados à população de marmotas, será possível estudar melhor como ganhadores e perdedores interagem, dizem os cientistas. “Demonstramos pela primeira vez como esse tipo de dinâmica dupla pode ser investigada”, diz Arpat Ozgul, um dos autores do estudo. “É um dos mais longos estudos baseados em uma população de mamíferos.”

A pesquisa também destaca que o aquecimento global afeta de maneira mais aguda as espécies que vivem em ambientes mais extremos, como os montanhosos –caso das marmotas.

FSP