por Aldem Bourscheit

Criado no fim de 2004 e envolvendo seis mil hectares de Cerrado e de Mata Seca no município de Januária, o refúgio de vida silvestre do rio Pandeiros abriga ambientes únicos em Minas Gerais, reproduzindo em menor escala as paisagens do internacionalmente conhecido Pantanal, que divide áreas entre Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai.

No entorno do refúgio, uma área de proteção ambiental com 210 mil hectares deveria funcionar como um “escudo” à poluição, desmatamento e outros impactos perigosos à sua sobrevivência. Todavia, uma das maiores ameaças vem de carona nas águas que fluem de vários pontos da região de solos frágeis: o assoreamento, provocado principalmente pela desmatamento de veredas e outros tipos de vegetação nas bordas de rios e córregos. A poderosa quantidade de areia carregada pelo rio Pandeiros levou até a desativação de uma pequena central hidrelétrica.

“Assim como no Pantanal, ameaças vindas de fora põem em risco regiões ao mesmo tempo frágeis e de grande importância econômica e ambiental. Esse tipo de questão precisa ser pesada nas agendas de desenvolvimento. Esta é uma conduta a ser reforçada na passagem do Dia Mundial das Áreas Úmidas (2 de fevereiro)”, ressaltou Michael Becker, coordenador do Programa Cerrado-Pantanal do WWF-Brasil.

A região, pontuada por lagoas, cachoeiras, o pântano e a foz do rio Pandeiros, funciona como um berçário natural para espécies migradoras, de interesse comercial e também ameaçadas de extinção, como dourado, curimatá, piau-verdadeiro, piranha, traíra, matrinchã, surubim e pacu. Quase 50 espécies de peixes foram registradas na Bacia do rio Pandeiros, tornando o espaço fundamental para a revitalização do rio São Francisco.

“No Pandeiros, ocorrem quase todas as espécies grandes migradoras e de importância comercial para a pesca. A sua importância local é inquestionável, pois contribui para a manutenção dessas espécies e também de uma rica fauna”, comentou o biólogo Carlos Bernardo Mascarenhas Alves, mestre em Ecologia, Conservação e Manejo da Vida Silvestre (UFMG).

Também colocam em risco a saúde do refúgio a expansão desregrada da fronteira agrícola, grandes empreendimentos para plantio eucalipto sem critérios de sustentabilidade, desmatamento ilegal para a produção de carvão, pisoteio de gado criado em regime extensivo, incêndios, caça e pesca predatória.

A pesca é hoje proibida naquele pantanal, reconhecido pelos governos federal e mineiro como área prioritária para conservação do Cerrado. Além de peixes, ele abriga e oferece alimento para inúmeras aves, caso do martim-pescador, pato-do-mato, mergulhão- pequeno e garça branca- grande. Além deles, lá vivem os inconfundíveis jacarés e capivaras, além de grandes felinos, como a suçuarana.

“Este ano, pletendemos entregar os planos de manejo e de gestão para o refúgio e área de proteção ambiental do rio Pandeiros, bem como contratar  21 funcionários, entre monitores ambientais e guarda-parques, para atuar na bacia. Outras ações continuarão a ser executadas, como educação ambiental nas comunidades e escolas rurais do entorno, treinamento de combate a incêndios florestais e formação de brigadas voluntárias, reuniões trimestrais dos conselhos consultivos e estruturação das UC”, comentou Natália Rust Neves, coordenadora de Áreas Protegidas do  Escritório Regional Alto Médio São Francisco do Instituto Estadual de Florestas.

O refúgio de vida silvestre do rio Pandeiros é uma das 12 unidades de conservação do Mosaico Sertão Veredas-Peruaçu, região onde o WWF-Brasil começa trabalho de apoio a práticas agrícolas menos agressivas ao meio ambiente e à implementação e gestão de áreas protegidas.

fonte: WWF