Ver uma onça-pintada na natureza é algo difícil de explicar. Ela encara, olho no olho, até ter a certeza de que você a viu. É como se a floresta parasse, naquele momento, só para vê-la passar. Seu tamanho é impressionante, ela domina o local e parece que tudo gira em torno dela. Antes de sair, uma pausa, a onça olha para trás, e verifica se você ainda está ali. Seus músculos estão tensos, sua respiração está presa e seu coração acelerado. É nesse momento que vem a certeza de que algo mágico está acontecendo. É uma energia muito intensa, que ficará impressa na sua memória para sempre.

No entanto, anos de perseguição por fazendeiros – que matam as onças para proteger seus rebanhos – deixaram a espécie com medo do homem. Hoje é um dos animais mais difíceis de ser avistado em umsafári. Para tentar mudar essa história nasceu o Projeto Onçafari, que propõe a conservação de animais selvagens através do ecoturismo.

Segundo Mario Haberfeld, idealizador do Onçafari, o objetivo é habituar a onça-pintada aos carros de passeios para que a observação da espécie na natureza seja facilitada. Isso atrairia mais pessoas, aumentaria o interesse dos fazendeiros no turismo de observação de animais, geraria novas oportunidades de emprego para as pessoas da região e ajudaria na conservação do felino e, consequentemente, de seu habitat. “É necessário agregar valor à onça para que ela valha mais viva do que morta.” Afirma

Mario Haberfeld colocando o colar com GPS em uma das onças do Projeto Onçafari – Foto: Divulgação

O projeto está adaptando uma técnica utilizada com leopardos na África do Sul há 30 anos. Ela consiste em selecionar um animal e segui-lo até que ele pare de considerar o carro como uma ameaça. O ideal é escolher uma fêmea. Quando ela tiver filhotes irá ensinar tudo para eles. Com isso, a habituação aos veículos será passada para a próxima geração. O processo não envolve métodos de domesticação (como o oferecimento de comida) e os animais selecionados permanecem selvagens.

O Refúgio Ecológico Caiman (REC), no Pantanal, do empresário Roberto Klabin – fundador e presidente da SOS Mata Atlântica e da SOS Pantanal – foi o lugar escolhido para o início dos estudos. Câmeras foram instaladas nas árvores para identificar as onças que habitavam a fazenda. Algumas fêmeas foram capturadas para a instalação de um colar com GPS, para a determinação do território de cada indivíduo. Uma onça, batizada de Chuva, foi escolhida para iniciar a habituação, pois seu território ficava dentro da fazenda. Isso era uma condição essencial, já que a caça – apesar de ilegal – ainda acontece no Pantanal. Fazer a habituação de um felino que pode entrar em outras fazendas seria um risco para o animal. Ele poderia se aproximar dos caçadores e seria um alvo fácil. Tudo isso está sendo acompanhado pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e pelo Cenap (Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos e Carnívoros)

O documentário “Mais perto do que você pode imaginar” irá registrar todo o processo de habituação e deve ser lançado no final do ano que vem no Brasil e no exterior. A ideia é replicar o processo em outras partes do país. “Quanto mais pessoas usarem a ideia mais áreas estarão sendo preservadas” diz Haberfeld.

Fonte: Site National Geographic