O cacique Atawalu Totopyre Kamaiura enfrentou três dias de viagem entre sua aldeia no Alto Xingu (MT) e o Rio para construir uma das ocas da Kari-Oca, evento paralelo da Rio+20 que reunirá indígenas de todo o mundo para discutir o desenvolvimento sustentável.

Mas, ao chegar à cidade com outros 20 índios, ficou sabendo que o grupo terá de construir duas ocas e que o pagamento por pessoa será R$ 600 abaixo do esperado. “O documento que chegou [na aldeia] falava em R$ 1.500. Por isso é que a gente veio. Agora são R$ 900. É muito pouco”, queixa-se.

Ele diz que o grupo está trabalhando cerca de dez horas por dia para acabar a construção a tempo do evento. O trabalho só pôde ser iniciado na última segunda, uma semana após a chegada do grupo, porque o terreno ainda estava coberto de mata.

“Para nós foi uma honra receber o convite”, diz. “Mas o branco não trabalha à toa, e nós queremos receber.”

O Kari-Oka é uma reedição do encontro indígena que ocorreu na Rio-92. Organizado pelo Comitê Intertribal, entidade criada em 1990 e comandada pelo indígena Marcos Terena, será palco de debates e de manifestações culturais e esportivas. A expectativa dos organizadores é reunir cerca de mil pessoas de diferentes povos.

Terena nega ter prometido R$ 1.500 aos índios e atribui o caso a um mal-entendido. Segundo ele, foi combinado que os índios receberiam uma “compensação” por terem deixado suas famílias no Alto Xingu, mas o valor não chegou a ser fechado.

“Eles falaram comigo que alguém disse para eles [que receberiam R$ 1500]. Não fomos nós da organização. Então fui explicar para eles que ninguém aqui na cidade ganha R$ 1.500. O moço que limpa o banheiro ganha uns R$ 600 por mês”, diz Terena. “Tive de explicar o valor do dinheiro para eles.”

Roberta Tojal, do Comitê Intertribal, diz que o contato com o grupo foi feito por meio de um membro da tribo que vive em Canarana (MT).

Segundo Terena, o Kari-Oka conta com o apoio do Ministério dos Esportes. Ele estima que o orçamento total será de R$ 1 milhão.