emissões mundiais de gasesOs 33 países que apresentaram suas promessas representam mais de um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa
 
Algumas das economias mais importantes do mundo não cumpriram o prazo informal estipulado pela ONU para apresentar suas propostas iniciais com vistas a um acordo para enfrentar as mudanças climáticas, que deve ser concluído em Paris no fim deste ano.
Japão, Canadá e Austrália não cumpriram o prazo encerrado ontem, assim como a China, maior emissor de gases causadores do efeito estufa, apesar de Pequim já delineado seu plano. O Brasil também não apresentou sua proposta.
Nas últimas grandes negociações climáticas da ONU, em Lima em dezembro, foi acordado que os países “dispostos a se engajar” apresentariam até ontem à ONU as suas promessas de cortes de emissões com vistas à cúpula de Paris.
Na noite de ontem, parecia que os países que apresentariam suas propostas seriam os EUA, os 28 membros da União Europeia, Noruega, Suíça, Rússia e México.
“É hora de outros países fazerem o que os EUA, México e os membros da UE fizeram e apresentar, dentro do prazo, metas transparente, mensuráveis e, acima de tudo, ambiciosas, para reduzir a poluição por carbono”, disse Brian Deese, assessor do presidente dos EUA, Barack Obama.
A proposta do México, a primeira apresentada por um país em desenvolvimento, destacou a necessidade de países como Canadá, Japão e Austrália apresentarem planos vigorosos, disse Tom Brookes, diretor executivo do grupo ativista European Climate Foundation. “Esses três [países] têm evitado suas responsabilidades climáticas perante a ONU e investiram substancialmente em fontes de combustíveis fósseis, de modo que a reação deles será fundamental.”
A promessa dos americanos repete o compromisso assumido em novembro por Obama e Xi Jinping, o presidente chinês, de emitir 26% a 28% menos gases de efeito estufa, em 2025, do que em 2005 (leia abaixo sobre a proposta dos EUA).
Os 33 países que apresentaram suas promessas representam mais de um quarto das emissões mundiais de gases de efeito estufa. A maioria dos grandes emissores deverá apresentar planos similares em breve e, por essa razão, a ONU minimizou as preocupações.
“O ritmo ao qual essas contribuições estão sendo apresentadas é de bom augúrio para [a cúpula de] Paris e além [dela]”, disse Christiana Figueres, principal autoridade climática da ONU.
Mas permanece algum nervosismo em relação aos progressos. Representantes de mais de 190 países deverão se reunir na capital francesa em dezembro para assinar um acordo internacional visando uma redução das emissões que, segundo cientistas, é necessária para evitar níveis perigosos de aquecimento mundial no futuro.
Este será o maior encontro sobre clima desde Copenhague, em 2009, que não conseguiu chegar a um acordo. “A grande lição de Copenhague foi ‘não deixar tudo para o último minuto’, e alguns países ameaçam permitir que a história se repita”, disse Tim Gore, assessor de política internacional para o clima da ONG Oxfam.
Mas outros disseram que atrasos serão inevitáveis, às vésperas do encontro de Paris. “Muitos estourarão o prazo, querendo primeiro ver os níveis de engajamento dos outros [países]”, disse Zoe Knight, chefe do centro de mudanças climáticas do HSBC.
A proposta da UE prevê, até 2030, um corte de suas emissões de gases-estufa de “pelo menos” 40% em relação aos níveis de 1990. Já o México disse que vai elevar seu compromisso de cortar suas emissões em 25% caso outros países concordem com medidas duras. A ONU deve divulgar relatório explicitando o total de cortes prometidos em outubro, mas acredita-se que as promessas não bastarão para manter o aquecimento global abaixo de 2°C.
 
Proposta de Obama para clima depende da Justiça
Mark Drajem | Bloomberg
 
A promessa do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de cortar fortemente as emissões de gases estufa depende de vitórias na Justiça e no legislativo, além da contínua disponibilidade de gás natural barato.
Não vai ser fácil. Um processo aberto pela indústria de carvão contra o plano da Agência de Proteção Ambiental (EPA) para forçar a redução de emissões nas usinas térmicas terá audiências em uma corte federal nas próximas semanas. E líderes republicanos estão estimulando os Estados a se recusarem a implementar as regras. Outros processos judiciais são prováveis uma vez que as novas regras sejam finalizadas neste ano.
Esforços para cortar as emissões de metano a partir da extração de gás e petróleo, aumentar a eficiência de caminhões e de eletrodomésticos são desafios. E alguns deles podem ser abandonados por um futuro presidente que não compartilhe da convicção de Obama de que combater o aquecimento global deve ser uma grande prioridade.
“O governo está dando os primeiros passos”, disse Peter Ogden, pesquisador-sênior do Center for American Progress, em Washington e ex-conselheiro da Casa Branca para o clima. “O desafio de percorrer todo o caminho ficará para os futuros governos e o futuro Congresso.”
Obama, que transformou a luta contra o aquecimento global em prioridade de seu segundo mandato, apresentou ontem às Nações Unidas um plano que ele delineou em novembro para reduzir drasticamente as emissões de gases estufa na próxima década. Esse gesto pretende impulsionar as conversas ente 190 países que devem culminar em dezembro, em Paris, com um acordo sobre como cada país tentará solucionar o problema a partir de 2020.
Os EUA se comprometeram a cortar as emissões para entre 26% e 28% abaixo dos níveis de 2005 até 2025. As emissões do país já caíram mais de 10% em relação a dez anos atrás, apesar de a agência de estatísticas governamental Energy Information Administration (EIA) prever que as elas aumentarão, em vez de cair, na próxima década.
A Casa Branca disse que os cortes podem ser obtidos por causa da proposta da EPA de forçar os Estados a cortar as emissões das usinas térmicas e de futuras regras sobre o metano e refrigerantes, que trarão mais redução.
A maior parte das reduções pelo plano da EPA se baseia na substituição do carvão pelo gás natural, no momento em que o fraturamento hidráulico baixou o custo do gás e fez dele um concorrente para o carvão.
“De uma perspectiva da engenharia, é fácil obter esse tipo de corte”, disse Michael Webber, vice-diretor do Instituto de Energia da Universidade do Texas. “Nós podemos construir usinas de gás natural para substituir o carvão.”
Para ele, “a parte mais difícil é fazer com que os políticos se comprometam com isso”. “Eu sou otimista, apesar de não ter nenhuma razão para sê-lo”.
A regra sobre as usinas térmicas enfrenta seu primeiro teste no tribunal nas próximas semanas. E a regra final, que deve ficar pronta nos próximos seis messe, deve ser contestada em todas as instâncias até a Suprema Corte, disse a chefe da EPA, Gina McCarthy. Alguns juristas e políticos republicanos, como o líder no Senado Mitch MacConnell, argumentam que a lei viola a Constituição e deve ser vetada pelos tribunais.