Relatório preliminar com a análise da qualidade da água e de sedimentos na área afetada pela lama registra índices de manganês, arsênio e chumbo muito acima do permitido
 
Com o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG),  no dia  5 de novembro de 2015, o mar de lama também carreou diversas informações desencontradas sobre a composição dos rejeitos e os potenciais impactos da lama sobre os ecosistemas atingidos. Incomodados com a falta de transparência e a gravidade da situação, pesquisadores de diversas universidades criaram o Grupo Independente de Avaliação do Impacto Ambiental (GIAIA), que se auto define como um “coletivo cidadão-científico”.
 
Ao contrário do que a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) e a Samarco afirmam a respeito da ausência de metais pesados nas água do Rio Doce, o GIAIA, que conta com apoio do Greenpeace, divulgou um Relatório Parcial sobre a contaminação da bacia a partir de coletas realizadas em campo entre os dias 4 e 8 de dezembro. Pesquisadores da UnB (Universidade de Brasília) e da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) coletaram e analisaram amostras de 17 pontos entre o rio Gualaxo do Norte, em trecho acima da barragem rompida (portanto não atingido pela lama), até a foz do Rio Doce, no Espírito Santo, onde a massa de lama chegou no dia 21 de novembro.
 
Entre os elementos analisados, o manganês, por exemplo, está acima do permitido pela resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) em 16 dos 17 pontos pesquisados, inclusive à montante da barragem de Fundão (o que indicaria contaminação anterior ao desastre). Em dois locais à jusante (rio abaixo) da barragem, em Ipatinga (cidade mineira de 150 mil habitantes) e na confluência do Rio do Carmo com o Rio Gualaxo do Norte, na cidade de Rio Doce, a concentração de manganês foi de 2,65 mg/L, ou seja, 26 vezes acima do limite máximo estabelecido (0,1 mg/L). O manganês é um elemento neurotoxico, cujo consumo pode causar diversos distúrbios e doenças mentais.  
 
Em outro resultado preliminar do trabalho dos pesquisadores, a água captada em Governador Valadares mostrou uma concentração de arsênio quatro vezes superior aos valores máximos permitidos para água potável. Já o chumbo, metal pesado com efeito sobre o sistema cardiovascular e nervoso, apresentou limites acima do permitido no Rio Gualaxo do Norte (0,029 mg/L) e na cidade de Rio Doce (0,016 mg/L).
 
O CONAMA não impõe limites para o ferro e o alumínio, mas, segundo o texto do relatório, ambos “estão em concentrações extremamente altas em todos os pontos de coleta afetados pela lama de rejeito”. Viviane Schuch, uma das idealizadoras e coordenadoras do GIAIA, explica que se trata de um estudo preliminar, mas que os resultados são muito confiáveis. “Essas mesmas amostras serão enviadas a laboratórios nacionais, e possivelmente internacionais, para que os dados sejam confirmados”, disse ela.
Mais informações sobre este assunto estará disponível na Revista Ecoturismo de janeiro.