Camburi e Maresias, duas das mais charmosas praias da costa sul de São Sebastião (litoral de SP), foram invadidas por um mar de guarda-sóis, mas nada que lembre o multicolorido de outros tempos. São dezenas de marcas, de cervejas, cartões de crédito e biscoitos, que competem, sem controle algum, por um lugar na praia. E sem pagar nada por isso.

Além dos guarda-sóis, que são distribuídos aos donos de quiosques, que as espalham pela praia, o turista ainda enfrenta outro tipo de competição. Em Maresias, por exemplo, é impossível comprar a marca de refrigerantes mais conhecida do mundo. Isso porque a Pepsi forneceu carrinhos de bebidas de graça aos vendedores. Com isso, manteve a exclusividade.

A publicidade ilegal se repete pelas principais praias do litoral norte e está na mira da SPU (Secretaria do Patrimônio da União), órgão federal que controla o que pertence ao governo. Por lei, a orla de todo o país é da União, que deve regular sobre o uso do espaço. Como essas ações de marketing não têm aval do governo federal, estão todas ilegais.

Já existem projetos pilotos em Ubatuba, e o mesmo vai acontecer em Ilhabela, segundo o superintendente substituto da SPU em São Paulo, Raphael Santos. Se bem sucedidas, as experiências servirão de modelo para outras áreas. Em Ubatuba, cidade com quase cem praias, o trabalho mais visível foi a retirada de quiosques da areia.

Negociação
Enquanto o órgão do governo federal não define o que fazer para coibir os abusos no litoral norte, os publicitários comemoram os lucros.

A Folha pesquisou o custo de, por exemplo, encher uma praia com cem guarda-sóis: cerca de R$ 5.500, com produtos de primeira linha de uma empresa de Botucatu (SP).

Não se compra quase nada no mercado publicitário com esse dinheiro, diz Luiz Rodovalho, presidente do núcleo paulista do Sepex, sindicato que reúne as empresas de mídia exterior em São Paulo.

Ele mesmo, um forte lobista em favor do setor, conta como acontecem as negociações que fazem com que as praias estejam tomadas de publicidade. “O cara [dono do bar ou quiosque] tem direito a colocar 30 mesas, mas [como ganham o material em troca da venda exclusiva de uma marca de cerveja, por exemplo, põe 60, 70. Ganha mais com isso”, diz.

Sem querer ter o nome divulgado, um quiosqueiro de Boiçucanga diz que os produtos fornecidos pelas empresas fornecedoras (caixas de cerveja, mesas e até um auxílio-manutenção) garantem um extra que ajuda a manter o comércio, que depende muito da sazonalidade e das condições do clima. “Eles dão descontos, uma ajuda, pagam mesa. Compensa.”

Folha de São Paulo