Campanha iniciada em 2010 estimulou os agricultores fluminenses a protegerem fontes de água em todo o estado. Resultado é mais de duas vezes maior que a meta

A Olimpíada está apenas no início. Independente do quadro de medalhas, um legado permanente já é motivo de comemoração. Uma campanha iniciada há seis anos junto aos agricultores familiares fluminenses contabilizou a preservação de 5.152 nascentes em todo o estado, com o objetivo de contribuir para o abastecimento das cidades e para o desenvolvimento sustentável após os Jogos Olímpicos.

Os dados foram consolidados nesta terça-feira (02) pelo Programa Rio Rural, responsável pela iniciativa. Um ano depois de o Rio de Janeiro ser anunciado como sede da competição internacional, o programa da secretaria estadual de Agricultura entrou em campo com a meta de envolver os agricultores na proteção de 2.016 nascentes de água até o início dos jogos. Para isso, eles receberam incentivos para aquisição de material utilizado no cercamento das fontes em suas propriedades, além de mudas para o plantio nessas áreas.

A preservação das nascentes é essencial para renovação do ciclo de água. Uma vez que a vegetação em torno das fontes é preservada e o trabalho de regeneração natural toma fôlego, a área verde trabalha como se fosse uma esponja, ajudando na absorção da água da chuva, que é infiltrada no solo e alimenta o lençol freático. Em seis anos de campanha, 5.152 fontes de água foram protegidas, com a mobilização de mais de cinco mil agricultores fluminenses. O volume estimado de água produzida por essas nascentes equivale a mais de seis mil piscinas olímpicas cheias por ano.

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Parcerias que fortalecem a preservação ambiental

O engajamento das comunidades rurais foi essencial para o êxito da campanha “Água Limpa para o Rio Olímpico”. Os agricultores se tornaram verdadeiros produtores de água, aumentando não só a oferta hídrica em suas propriedades, mas também colaborando para otimizar a vazão dos rios que abastecem os centros urbanos.

Ao longo da campanha, parcerias com os setores público e privado potencializaram as ações de conservação dos recursos hídricos em várias regiões do estado. Um dos exemplos bem sucedidos é a cooperação entre o Rio Rural e a Companhia Estadual de Águas e Esgoto (CEDAE). Por meio dele, 50 mil mudas estão sendo doadas aos produtores da microbacia Rio das Flores, em Valença, no Sul Fluminense. A orientação sobre como fazer o plantio e monitorar seus resultados é feita através do projeto “Adote uma nascente”, implementado pelos técnicos da Emater-Rio no município.

Mesmo com o fim das competições olímpicas, o Rio Rural vai continuar com as ações de preservação das fontes de água. O secretário estadual de Agricultura, Christino Áureo, enfatiza que, para que isso aconteça, a adesão de novos produtores é importante, do mesmo jeito que parcerias com outras empresas são bem vindas. “A Olimpíada é uma conquista muito importante, que vai deixar sua marca, mas é também um momento que vai passar. Já a necessidade de água é permanente. As empresas com visão sustentável podem contribuir efetivamente para os esforços dos nossos agricultores, para que a chama da preservação não se apague”, completa Áureo.

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Reconhecimento olímpico

Graças ao destaque na campanha de proteção de nascentes, a extensionista social da Emater-Rio, Norma Lúcia Vieira, foi selecionada no concurso “Servidores que valem Ouro” para participar do revezamento da tocha olímpica. Ela conduziu a chama na semana passada, no município de Itaocara, no Noroeste Fluminense. Considerada a região com maior degradação ambiental do Rio de Janeiro, o Noroeste foi castigado historicamente por práticas como a monocultura e a pecuária extensiva. Porém, um novo caminho sustentável vem sendo construído por meio das ações do Programa Rio Rural, tal como a campanha de preservação das fontes de água.

“A tocha olímpica foi um presente para todos nós que trabalhamos em prol da agricultura sustentável. Ela é a coroação do esforço que vem sendo feito para revitalizar os mananciais do nosso estado. Água vale ouro para todos”, afirma Norma Lúcia Vieira, que é supervisora local do escritório da Emater-Rio em São José de Ubá.

Em Ubá, 85 fontes foram protegidas durante a campanha. A cidade é uma das poucas do estado que não possuem rios em sua geografia. A população de quase 7.200 habitantes é abastecida pelo Córrego de Ubá que, segundo a servidora, teve a vazão bastante enfraquecida a partir de 1990. Além disso, a situação hídrica foi se agravando após duas grandes secas no município.

 “Os incentivos do Rio Rural fizeram a diferença na produção de água em nossa cidade. Os produtores conseguiram executar o que sonhavam. Não tínhamos nenhuma mina e hoje temos 85 preservadas, funcionando com abundância”, completa Norma Vieira.

Foi por isso que, há 26 anos, a Emater-Rio em São José de Ubá criou o projeto “Adote uma mina”, que funciona nos mesmos moldes da campanha de proteção de nascentes para os Jogos Olímpicos. A adesão dos produtores se deu de forma lenta, pois eles não possuíam recursos para a compra de cercamento e mudas. Com a entrada do Rio Rural, as ações conservacionistas receberam um grande impulso.

A produção de água tem ligação direta com o cultivo de alimentos. Ubá é o segundo maior produtor estadual de tomates, lavoura bastante exigente em água, principalmente nas raízes. Além do aumento da oferta de água para as plantações de tomate, a preservação dos recursos hídricos também tem contribuído para diversificar a atividade agrícola no município, dando conta da irrigação de novos cultivos que estão se expandido como quiabo, laranja e abóbora.