Em setembro de 2000, comecei meus trabalhos na Serra da Canastra para documentar lobo-guará e o projeto do biólogo Rogério Cunha de Paula. Naquela época, as fotos serviriam para o livro Natureza, Conservação e Cultura, para onde documentei todos (ou quase) os carnívoros brasileiros e os projetos do Instituto Pró-Carnívoros. Num certo dia, enquanto rastreávamos um lobo tivemos simultaneamente a mesma visão: produzir um livro sobre a região da Serra da Canastra que fizesse jus à sua grandiosidade e beleza. Não seria apenas um livro sobre fauna, flora ou aspectos do ecossistema existente; muito menos se atentar culturalmente apenas à produção do famoso queijo Canastra. Isto seria obvio demais e não explicitaria de fato a diversidade natural e sociocultural do lugar. Três anos se passaram e a jornalista Laís Duarte Mota, conhecedora profunda da cultura da região, gostou da idéia. Três olhares distintos enxergando as mesmas belezas.

Em 2006 lançamos o primeiro livro, chamado simplesmente Serra da Canastra; se esgotou rapidamente, já que era o primeiro livro no mercado a abordar com profundidade os aspectos ambientais e principalmente culturais da região.

Mas apenas agora, 11 anos depois, conseguimos concretizar todas as idéias e propostas que tivemos conjuntamente, num fim de tarde do ano 2000. Inclusive acrescentar no nome desta obra a expressão que melhor define a Serra da Canastra: diversidade infinita.

 

“Retratamos aspectos naturais do que hoje é considerada uma das regiões mais ricas em biodiversidade do país, ao mesmo tempo em que tentamos eternizar personagens lendários, suas historias, seus ‘causos’ mineiros, religiosidade e modos de vida, graça e simpatia.”
Talvez seja prepotência chamá-lo assim – ‘obra’, mas este livro é o retrato de um investimento pessoal e emocional sem precedentes, e nós três perdemos a conta das vezes que seguimos para estes rincões mineiros em busca de olhares, histórias e animais. O Rogério trabalha na região desde 1997 e dedica sua vida à conservação de lobos. Laís Duarte, quando trabalhava na TV Globo de Uberlândia, garimpava na Canastra temas culturais e ambientais para suas matérias televisivas. E eu, um aficionado por lugares simples onde a beleza é sutil entre luzes, formas e cores, disparei milhares de cliques em cromos, negativos P&B e digital. Creio que conseguimos harmonizar em 240 paginas tudo de mais raro e especial que já vimos por aquelas serras, vales e casas.

Retratamos aspectos naturais do que hoje é considerada uma das regiões mais ricas em biodiversidade do país, ao mesmo tempo em que tentamos eternizar personagens lendários, suas historias, seus ‘causos’ mineiros, religiosidade e modos de vida, graça e simpatia.

Rogério ficou responsável pelo capítulo “Ambiente”, descrevendo detalhes sobre a história geológica, clima, fauna e flora da região. Destaca os mais diversos aspectos naturais, se aprofunda na ecologia de animais criticamente ameaçados como o pato-mergulhão e obviamente, o lobo. Lais finaliza com curiosas histórias sobre a cultura local; a folia de reis, um linguajar muito próprio de quem vive lá; uma vila onde casamento não existe – onde todos os habitantes são descendentes de um mesmo padre. Delicia o leitor com a descrição de uma das mais tradicionais iguarias mineiras: o queijo canastra.

A mim, ficou a incumbência de selecionar entre um arquivo que ultrapassa as 4 mil fotos, certa de 140 imagens que pudessem representar o que é a Serra da Canastra para nós. Ao contrario do primeiro livro, em que o conteúdo mais técnico pedia uma documentação específica de animais raros, plantas endêmicas e características geográficas, neste livro corri solto com o olhar. Como assumi a coordenação editorial, optei por escolher imagens que remetessem à beleza das situações documentadas. Assim, um comum Carcará em display de acasalamento teve a mesma importância do que o vôo do raríssimo pato-mergulhão. Se as fotos complementavam e ilustravam bem o texto, foram inicialmente selecionadas. Obviamente alguns ‘sacrifícios’ foram feitos, e confesso que tenho fotos inéditas para publicar mais dois livros. Mas minha intenção na seleção das fotos foi tentar passar ao leitor uma sensação de êxtase, de prazer em saber que existe um lugar tão fantástico; compartilhar a honra de conhecer estas serras, animais e pessoas, e tornar este livro um convite para que todos visitem e se tornem parte deste pedaço de paraíso.

Fonte: www.oeco.com.br