O Sistema Cantareira é responsável pelo abastecimento de 50% da população que vive na Grande São Paulo. Uma região que, ao contrário das represas Billings e da Guarapiranga, ainda não sofreu tanta ação do homem. Uma grande reserva de mata verde que precisa ser preservada.

Abastecer a população é uma preocupação antiga na capital paulista. No início do século passado, a cidade tinha um número de habitantes muito menor e a Represa do Engordador, na Serra da Cantareira, dava conta de mandar água para cerca de 80% das pessoas.

Durante quase 50 anos, apenas uma máquina abasteceu boa parte de São Paulo. Suas enormes engrenagens movimentavam as bombas que puxavam a água de um reservatório até o alto da Serra da Cantareira e essa água descia por gravidade até a capital paulista. O sistema era impulsionado por uma grande caldeira. Até que em 1949, a caldeira superaqueceu e explodiu. O sistema foi desativado.
Foi preciso então buscar alternativas. As represas Guarapiranga e Billings passaram a ajudar. Só que era preciso ainda mais água. O Sistema Cantareira foi então construído e passou a funcionar na década de 70.

Apesar do nome, a água não vem apenas da Serra da Cantareira. Ela vem desde Minas Gerais. São seis reservatórios: Jaguari, Jacareí, Cachoeira, Atibainha, Paiva Castro e Águas Claras. Até o de Paiva Castro, em Mairiporã, na Grande São Paulo, a água percorre aproximadamente 48 quilômetros por gravidade através de tubos e canais e chega ao pé da Serra da Cantareira. Na estação elevatória Santa Inês, onde é bombeada, sobe 120 metros de altura para o reservatório artificial de Águas Claras. Segue então para a estação de tratamento do Guaraú, onde são produzidos 33 mil litros de água por segundo para abastecer cerca de oito milhões de pessoas da Região Metropolitana de São Paulo.

“O Sistema Cantareira é um sistema de boa qualidade. Os mananciais são relativamente bem protegidos, então a gente não tem problema de qualidade. É uma água fácil de tratar, tanto que só o sistema convencional de tratamento é suficiente. De quantidade, a gente está em situação excelente. Aliás, há muitos anos que a gente não tem uma situação de quantidade tão boa, como está agora em 2009”, afirma Cláudia Mota, gerente de tratamento da estação de água do Guaraú.

Dos três grandes sistemas fornecedores de água para a região metropolitana, o Cantareira é o mais novo. A mata cerca boa parte das represas. O difícil é conter a pressão das cidades que insistem em brigar por espaço.

“Mairiporã é um município que está quase 100% inserido em área de manancial, o que significa que quase tudo que acontece dentro desse território está relacionado de alguma forma com a qualidade da água que a gente bebe. Em Mairiporã, por exemplo, apenas 35% do esgoto gerado é tratado. O restante é despejado ‘in natura’ nos córregos, rios e na própria represa ou é destinado às fossas”, afirma Pilar Cunha, pesquisadora do Instituto Socioambiental.

A ocupação sem freio transforma a represa aos poucos em uma lâmina d’água. “Tínhamos cinco metros de profundidade, e agora nós vemos as nossas amigas garças passeando tranquilamente com a água na canela. Então, nós temos aí 10 centímetros de profundidade”, diz o vice-presidente do comitê da Bacia Juquehy-Cantareira, Mário César do Nascimento.

Os ambientalistas tentam evitar a degradação em volta. Algumas pedras, por exemplo, são ruínas de uma obra que sequer começou. A briga é para que a praça de pedágio da Rodovia Fernão Dias seja construída fora da área de manancial.

Enquanto isso, o comitê da Bacia Juquehy-Cantareira conseguiu autorização para fazer um pólo ecoturístico em Mairiporã. Uma forma de deixar as pessoas entrarem nas áreas de manancial, mas não para devastar.

“O fato de estar numa área de manancial também traz oportunidades. Então é muito importante que existam políticas e projetos para fazer com que os municípios valorizem esse aspecto e possam ganhar com isso, e não simplesmente ficar lidando com as restrições que essa legislação impõe”, conta Pilar Cunha.

Fonte: Do G1, com informações do Bom Dia São Paulo