Com quase meio ano do terremoto de março, multiplicam-se as ofertas de viagens solidárias às áreas devastadas do nordeste do Japão, que unem turismo e voluntariado para estimular ao mesmo tempo a reconstrução e a economia.

A maioria dos turistas solidários é de japoneses que dedicam parte do tempo livre para ajudar seus compatriotas. Eles dividem o tempo usando botas e máscaras, em meio a altas temperaturas, grande esforço físico e forte cheiro para ajudar seus vizinhos do norte, antes de visitar belos destinos da região.

Franck Robichon/Efe
Portal do templo Chusonji em Hiraizumi, nordeste do Japão
Portal do templo Chusonji em Hiraizumi, nordeste do Japão

Até ser sacudida pelo grande terremoto de março, a região de Tohoku oferecia aos visitantes uma grande variedade de paisagens naturais, rica gastronomia, castelos, cascatas, praias e locais como Matsushima, uma baía formada por ilhotas considerada por japoneses como um dos três destinos mais lindos do país.

“É importante recuperar o volume de turismo, que caiu drasticamente depois do terremoto”, ressaltou Emiko Okuyama, prefeita da cidade de Sendai, a principal da região de Tohoku e uma das principais afetadas pelo desastre de março.

Para a prefeita, é vital que os visitantes voltem às áreas como as de Akita e Iwate. “Essas duas regiões não sofreram danos do terremoto e tampouco radioatividade”, por isso a importância de os turistas, especialmente os estrangeiros, perceberem que nesses locais não há nenhum problema.

Com esta necessidade em mente, são várias as agências de viagem em Tóquio que estão criando programas de viagens com destinos e dias de duração adaptados para que, por um preço considerado baixo, entre US$ 250 e US$ 640, possam mobilizar o maior número destes turistas-trabalhadores.

FIM DE SEMANA

Algumas dessas viagens são inclusive de apenas um dia, na qual os voluntários saem de noite e, após 7 horas de estrada de ônibus a partir de Tóquio, chegam às áreas litorâneas devastadas para trabalhar durante cinco horas e voltar ao entardecer.

Os mais requisitados são os fins de semana, como o que levou à japonesa Asa a passear e trabalhar durante algumas horas na dura realidade de Ishinomaki, uma das cidades mais arrasadas pelo tsunami, antes de visitar Hiraizumi, um lugarejo entre montanhasrecentemente catalogado como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

Efe
Interior do templo Chusonji em Hiraizumi, nordeste do Japão, em área que entrou recentemente em lista da Unesco
Interior do templo Chusonji em Hiraizumi, nordeste do Japão, em área que entrou recentemente em lista da Unesco

Por US$ 382, ela fechou uma viagem que incluía ônibus (para viagem), algumas refeições, um pernoite em um “ryokan” (hotel tradicional japonês) com “onsen” (águas termais) e um dia de voluntariado.

Chegar a Ishinomaki foi “como estar em um filme de terror”, explicou esta jovem de Tóquio, que relatou com tristeza que no litoral “nada está em pé, só se vê uma montanha de carros empilhados”.

“É uma experiência que recomendo a todos”, acrescentou Asa, que em Ishinomaki ajudou em uma fábrica de latas de conservas, uma indústria que antes do desastre era uma das principais da cidade.

Com as plantas paralisadas pelos destroços do tsunami, o único sustento dos funcionários é agora a venda das latas de conservas resgatadas do lodo e dos escombros, que os voluntários têm de limpar durante cerca de quatro horas.

“São necessários muito voluntários e durante um longo prazo”, revelou Asa, que destacou a tranquilidade que demonstram os atingidos na hora de relatar suas traumáticas experiências, como a de um operário idoso que perdeu cinco de seus familiares e só conseguiu recuperar o corpo de um deles.

O terremoto e o tsunami de 11 de março causaram 15.744 mortes e deixaram 4.227 desaparecidos, pelos últimos números da polícia, que prestes a fechar seis meses da tragédia ainda atualiza os dados diariamente.

Na província de Miyagi, a mais afetada e onde fica Sendai e Ishinomaki, os óbitos somaram 9.383 e os desaparecidos 2.283, ao mesmo tempo em que mais de 73,2 mil imóveis ficaram totalmente destruídos e ainda há 2.850 pessoas vivendo em 117 abrigos públicos.

Por isso, é nesta província que estão concentradas centenas de organizações japonesas e internacionais para canalizar a ajuda, com o apoio dos voluntários que fornecem materiais para reconstrução e tentam demonstrar, ao mesmo tempo, que o norte é um destino seguro e dono de uma beleza extraordinária.

Fonte:  Folha.com