Lavoura, que será colhida entre março e abril, pode complementar a oferta de etanol durante a entressafra

Para alguns analistas, porém, o sorgo ainda é uma promessa; Raízen, ETH, Bunge e São Martinho fazem testes

TATIANA FREITAS
DE SÃO PAULO

Grandes grupos produtores de álcool, como Raízen, ETH, Bunge e São Martinho, estão plantando sorgo sacarino na tentativa de complementar a oferta durante a entressafra de cana-de-açúcar.

O sorgo é uma gramínea, assim como a cana-de-açúcar e o milho.

A produção, por enquanto, tem caráter experimental, mas as usinas acreditam que o sorgo sacarino, que tem propriedades diferentes do sorgo forrageiro (usado na produção de ração), pode reforçar a oferta de etanol no período mais crítico do ano.

O plantio começou em dezembro para colheita entre março e abril deste ano, quando se encerra a entressafra de cana. A ideia é aproveitar essa janela na produção das usinas, que param de operar nesse intervalo por falta de matéria-prima.

O sorgo também despertou o interesse dos usineiros porque, para processar o colmo do sorgo, onde está o açúcar, são necessários poucos ajustes no campo e nenhuma adaptação na área industrial.

O custo de produção também é mais baixo, pois o sorgo exige menos manejo cultural do que a cana.

“O sorgo nos pareceu uma boa alternativa para acelerar o crescimento de nossa produção”, diz Luis Felli, diretor da ETH Bioenergia.

Dos 120 mil hectares que serão cultivados pela empresa na próxima safra, 1,5 mil hectares serão de sorgo.

A Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, também ampliou a sua área com sorgo em 2011, para mil hectares. “Estamos estudando como o sorgo pode entrar no nosso sistema”, diz Rodolfo Geraldi, diretor agrícola da empresa.

ANO DECISIVO

Os quatro fabricantes de sementes de sorgo sacarino no Brasil -Embrapa, Monsanto, Ceres e Advanta- são menos cautelosos e investem no melhoramento genético para elevar a produtividade.

“Em dez anos, o sorgo deve atingir a produtividade da cana”, diz William Burnquist, gerente da Ceres no Brasil.

No entanto, os fabricantes admitem que este será o ano “decisivo” para o futuro do sorgo no mercado de etanol.

“Com áreas maiores, será possível constatar a viabilidade da tecnologia”, diz José Carlos Carramate, líder do negócio de cana da Monsanto. A multinacional vai fornecer sementes para o plantio em 20 mil hectares, ante 4 mil hectares no ano passado.

Segundo André May, pesquisador da Embrapa, há potencial para o plantio de até 1,5 milhão de hectares de sorgo na entressafra, para produzir 3,7 bilhões de litros de etanol, cerca de 13% da produção nacional. “Mas a projeção mais realista é de plantio de 300 mil hectares nos próximos anos”, diz.

Para o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), o sorgo ainda é uma promessa. “O índice de produtividade e a quantidade de açúcar ainda é muito inferior à da cana”, diz Luis Antonio Dias Paes, diretor do CTC. “Mas tem a possibilidade de se tornar um nicho interessante no início e final da safra de cana.”

fonte: folha de sp