Dona das maiores e melhores reservas de ferro do mundo, a Vale anunciou ontem seu primeiro investimento em minério fora do Brasil, com a aquisição, por US$ 2,5 bilhões, de depósitos em Guiné, país localizado no oeste da África.

A mineradora brasileira comprou 51% da BSG Resources (BSGR), detentora de concessões e licenças de exploração de minério de ferro nas regiões de Simandou Sul e Simandou Norte, próximas ao litoral do país africano.

A Vale pagará US$ 500 milhões à vista. Os outros US$ 2 bilhões serão quitados “em etapas sujeitas ao cumprimento de metas específicas”, segundo comunicado da Vale. É que a mineradora quer se certificar do exato potencial das reservas, ainda inexploradas.

Os planos da Vale são colocar em produção, primeiro, a mina de Zogota, em Simandou Sul, já em 2012, com uma extração inicial de 10 milhões de toneladas/ano de minério.

O objetivo, porém, é ampliar a produção para 50 milhões de toneladas/ano entre 2014 e 2015 -o que tornará a mina africana a segunda maior da empresa, atrás apenas da localizada em Carajás (PA).

Esse volume corresponde a 17% da capacidade atual de extração de minério de ferro da Vale (300 milhões de toneladas/ano).
Serão ainda realizados estudos adicionais de viabilidade nas reservas de Simandou Norte antes de uma decisão sobre o início da exploração na área.

Parte da motivação da Vale em adquirir as licenças se deu por conta das características semelhantes dos depósitos de Guiné e os de Carajás, no Pará. Teorias geológicas demonstram que as áreas eram contíguas em eras pré-históricas.

Segundo a mineradora, as reservas de Guiné estão “entre os melhores depósitos de minério de ferro ainda não explorados no mundo”. Possuem, diz a Vale, “alta qualidade e potencial para o desenvolvimento de projeto de larga escala e longa duração, com baixo custo operacional e de investimento”.

Com o negócio, a Vale, além de assumir o controle da joint venture, assegurou a responsabilidade pela operação e condução de investimentos nas minas, marketing e vendas do volume total de minério -e não apenas dos 51% correspondentes à sua participação.

Será criado um corredor logístico para escoamento do minério, por meio da Libéria, país vizinho a Guiné. Para obter o direito de transporte pela Libéria, a joint venture assumiu o compromisso de restaurar 660 km de uma ferrovia que corta o país e adaptá-la ao transporte de passageiros e cargas leves.

Internacionalização
A aquisição das minas em Guiné representa o maior investimento numa compra no exterior feita pela Vale desde a compra da Inco, no final de 2006, por US$ 18 bilhões.

Desde a compra da mineradora canadense, a Vale conviveu, porém, com a queda brusca dos preços do níquel (principal produto da Inco) em 2008 e 2009 por conta da crise, que levou à paralisação de minas.

Sofre ainda com uma greve, que se arrasta desde julho, motivada pelo corte de benefícios e pelo programa de redução de custos impostos pela administração brasileira.

A Vale tem operações ou desenvolve projetos de produção em Peru, Chile, Argentina, Omã, Canadá, Moçambique, Indonésia, Austrália, China e Nova Caledônia. A empresa também realiza prospecções em vários países.

FSP