Estamos chegando à Rio+20, megaevento da ONU que discutirá a sustentabilidade e os mecanismos de governança global para esse assunto.

Quem vai estabelecer as regras e metas e quem vai punir os países que não as cumprirem serão temas presentes na grande reunião que ocorrerá em junho próximo no Rio de Janeiro, 20 anos depois da famosa Rio 92, que originou a chamada Agenda 21.

O Brasil rural terá vários troféus para exibir  na Rio+20, mostrando sua sustentabilidade.

A produtividade agrícola cresceu espetacularmente graças ás nossas instituições de pesquisa. Um dado notável é que, se tivéssemos hoje a mesma produtividade de grãos por hectare que tínhamos há 20 anos, seriam necessários mais 53 milhões de hectares (além dos 52 milhões atualmente cultivados com grãos) para termos a produção deste ano. Em outras palavras, preservamos 53 milhões de hectares!

O Plano ABC (Agricultura de Baixo Carbono) lançado pelo Ministério de Agricultura é um exemplar modelo de produção sustentável. E sua recente desburocratização oferece aos produtores rurais do nosso país uma chance de liderar globalmente essa inovação.

A integração lavoura/agropecuária/floresta é outro exemplo notável de contribuição que nossos pesquisadores, extensionistas e produtores rurais dão ao mundo, e pode mudar o paradigma da agropecuária tropical. Tanto ou mais ainda que o plantio direto na palha, outra tecnologia da qual o Brasil já que é hoje o segundo maior usuário, atrás dos Estados Unidos.

A economia de defensivos, água e diesel obtida com os OGM (organismos geneticamente modificados) e a consequente redução da emissão de gases de efeito estuda, o crescente rendimento da pecuária de corte, a redução do desmatamento etc. são muitos dos nossos bons exemplos.

Tomara que o Código Florestal seja votado rapidamente na Câmara dos Deputados (com o equilíbrio do projeto de Aldo Rebelo) porque esse será também um maravilhoso exemplo de moderno tratamento à questão ambiental.

Pena que tenhamos uma grande fraqueza, que seguramente nos será cobrada, na área de agroenergia.

A lamentável falta de estratégia para esse relevante segmento, que ajuda a mitigar o aquecimento global com a forte redução da emissão de C02 dos carros a álcool em relação à gasolina, nos levou a perder a liderança mundial no tema. E agora importamos álcool de milho dos Estados Unidos para garantir nosso abastecimento interno. Uma vergonha nacional. Que aconteceu?

Recentemente, Bob Dinneen, presidente da Renewable Fuels Association, uma espécie de Única (União da Indústria da Cana-de-açúcar) norte americana, deu respostas a essa pergunta incômoda.

Segundo ele, apesar da crise financeira global, os EUA inovaram, são hoje líderes em fonte disponível de energia renovável, com os menores custos, estão reduzindo a poluição , revitalizando a economia rural do país e levando aquela nação à independência energética.

As 209 usinas em operação em 27 estados americanos tem capacidade instalada para 56,5 bilhões de litros. No ano passado, produziram 52,7 bilhões, além de 39 milhões de toneladas de ração protéica usada na alimentação animal como subproduto do álcool. Nós só produzimos 27,6 bilhões de litros.

Essa estrutura toda gerou lá cerca de 400 mil empregos diretos e indiretos, com bons salários médios e injetou no PIB americano US$ 43 bilhões. De acordo com Dinneen, estudos das universidades de Iowa e de Wisconsin mostram que o aumento de uso de etanol reduziu os preços da gasolina no atacado em U$ 0,89 por galão (ou 16%) de 2000 a 2010.

O Brasil foi o maior importador de álcool norte-americano em 2011 com 1,1 bilhão de litros.

Não podemos passar esse vexame em junho no Rio, pela simples razão de não termos estabelecido uma estratégia para um produto estratégico, porque é combustível.

Mas  ainda dá tempo, faltam três meses, e os pontos para tal estratégia são conhecidos por todo mundo no governo. Basta vontade política!

Roberto Rodrigues

Fonte: Folha de S. Paulo