Em discurso transmitido pela TV em rede nacional na noite desta terça-feira, o presidente Barack Obama disse que os danos causados pelo vazamento de óleo no golfo do México devem levar anos para serem totalmente resolvidos, mas defendeu que a empresa responsável pela plataforma, a British Petroleum (BP), vai ter que pagar por todos os danos causados na região.

O vazamento de petróleo no golfo do México, a catástrofe ecológica mais grave da história dos EUA, começou por causa da explosão e conseguinte afundamento no mar da plataforma “Deepwater Horizon”, administrada pela BP, em abril. O incidente deixou 11 mortos.

Segundo o líder americano, os esforços conjuntos vão conseguir conter 90% do vazamento de óleo nas próximas semanas, e a finalização de um poço auxiliar, que deve estar pronta no máximo no verão [inverno no Brasil] vai “parar o vazamento completamente”.

Porém, ele reconheceu que o trabalho deve completo deve levar anos. “É como uma epidemia, que vamos ter de combater por anos. Vamos lutar por quanto tempo for necessário, e vamos fazer a BP pagar pelo que for necessário”, afirmou o presidente.

“Amanhã, me encontrarei com o presidente da BP e vou informá-lo de que precisa reservar todos os recursos necessários para compensar os trabalhadores e comerciantes afetados como resultado da negligência de sua companhia”, disse Obama. “E este fundo não será controlado pela BP. A fim de assegurar que todas as reivindicações legítimas sejam pagas de forma justa e adequada, a conta precisa e será administrada por um terceiro independente”, acrescentou.

Em comunicado divulgado logo após o pronunciamento de Obama, a BP afirmou que compartilha a meta de limpar o vazamento e de ajudar as pessoas e o ambiente afetados. A companhia também disse que espera ansiosamente pela reunião com o presidente americano nesta quarta-feira “para uma discussão construtiva sobre como melhor atingir esses objetivos mútuos”. Procurado por telefone pela agência Associated Press, o porta-voz da BP não quis comentar.

“Nunca houve um vazamento deste tamanho e a essa profundidade”, disse Obama, que defendeu a reação adotada pelo seu governo, dizendo ter reunido um time com os melhores cientistas e engenheiros dos EUA para lidar com o problema. “É o pior desastre que os EUA já sofreu em sua história.”

No final do pronunciamento, Obama reconheceu que lidar com petróleo envolve riscos, e afirmou que é chegado o momento de os EUA passarem a desenvolver energia limpa no lugar da dependência dos combustíveis fósseis. “Aceito todos os tipos de sugestão. Só não vou aceitar a falta de ação.”

Obama encerrou sua fala dizendo que o povo americano reza pelas pessoas do golfo que enfrentam o vazamento, e para que “uma mão nos guie por essa tempestade até um dia melhor”.

Três partes
Obama, então, dividiu seu discurso em três partes. Primeiro, falou sobre o que está sendo feito para limpar a área. Em seguida, disse o que está sendo feito e o que será feito para ajudar “nossos amigos no golfo”. Finalmente, falou sobre as medidas a serem tomadas para que um problema como esse não volte a se repetir.

“Milhões de galões já foram removidos por causa dos nossos esforços. Vamos oferecer todos os recursos e esforços necessários, mas novos desafios vão sempre existir. Se houver problemas, nós vamos resolver.”

Obama reconheceu que um grande estrago ambiental e econômico já foi causado por causa do vazamento de petróleo, por isso prometeu um projeto de recuperação e restauração da costa do golfo do México.

Falando sobre sua visita à região afetada, Obama disse ter visto restaurantes vazios e conversado com donos de lojas e restaurantes. “A tristeza e raiva que eles sentem não é só pelo dinheiro que perderam, mas também porque seu modo de vida está ameaçado.”

O presidente ressaltou que é preciso ter um plano no longo prazo. “Eu firmo esse compromisso nesta noite. Vamos desenvolver um plano de restauração da costa do golfo assim que possível. E a BP vai pagar pelo impacto que o vazamento teve na região.”

Finalmente, falando sobre como evitar que esse tipo de acidente não se repita, Obama lembrou a tentativa de combater a corrupção e os ccasos de conflito de interesses na agência que controla a exploração de gás e petróleo nos EUA, o Serviço de Gerenciamento de Recursos Minerais.

Ele anunciou o novo diretor para a agência –Michael Bromwich — e disse que nos próximos meses a agência deixará de ser uma parceira das empresas, para se tornar um órgão supervisor.

Tamanho do desastre
Nesta terça-feira, uma equipe de cientistas americanos elevou a estimativa para o vazamento de petróleo para entre 35 e 60 mil barris por dia –um aumento significativo em relação à estimativa anterior, de entre 20 e 40 mil barris por dia.

Em litros, representa entre 5,5 e 9,5 milhões de litros de petróleo vazando por dia no golfo do México, segundo os novos cálculos, e representa até 3,1 milhões de litros a mais do que calculava o governo norte-americano até agora.

Os cientistas levaram em conta as análises de uma série de vídeos de alta resolução, tecnologias acústicas e o volume recolhido no navio petroleiro que recebe o óleo.

Tentativas
O “funil” de contenção colocado no final de maio sobre o poço pode capturar até 18 mil barris diários. Por isso, a BP (British Petroleum) instalará um segundo dispositivo do tipo, conhecido como Q4000, que poderia conter entre 20 e 28 mil barris.

No total, a estratégia de contenção que a BP desenvolveu, a pedido do governo americano, prevê expandir a capacidade de captura de petróleo para entre 40 e 53 mil barris diários no final deste mês e de 60 a 80 mil barris até meados de julho.

A BP se viu obrigada a suspender hoje durante cinco horas as tarefas de transposição devido a um pequeno incêndio no navio de armazenamento.

Aprovação
A maioria dos americanos (59%) quer que a empresa britânica BP, responsável pela plataforma que explodiu no golfo do México, pague por todas as perdas financeiras dos habitantes da costa dos EUA, mesmo que isso leve a empresa à falência. Os custos incluiriam salários de trabalhadores dos setores pesqueiro e turístico.

Além disso, 71% dos americanos pensam que Obama não foi duro o suficiente com a BP.

A pesquisa de opinião foi encomendada pelo jornal USA Today ao instituto Gallup e foi conduzida entre os dias 11 e 13 de junho.

Pouco mais da metade dos americanos (53%) consideram a resposta de Obama ao derrame “ruim” ou “muito ruim”; 81% deram a mesma resposta para a BP.

A avaliação da população em relação a Obama não mudou significativamente nas últimas duas semanas. Uma pesquisa anterior do Gallup, realizada entre 5 e 6 de junho, mostrou que o índice de aprovação à resposta de Obama ao vazamento ficava em 40%.

Quando os dados são separados por preferências partidárias, as visões de republicanos são muito mais críticas da resposta de Obama ao desastre: 79% dos republicanos escolheram “ruim” ou “muito ruim”, contra 59% dos independentes e (27%) dos democratas.

Independentemente de preferência partidária, porém, a maioria dos americanos concorda que a BP realizou um trabalho “muito ruim” na contenção do vazamento.

FSP