Bruna Lombardi, Carlos Alberto e Kim Riccelli contam como é conviver no dia a dia em casa e no trabalho

Rui Mendes

A família em sua casa de São Paulo

Morando entre Los Angeles e SP desde 1990, a atriz Bruna Lombardi, 58, já fez três filmes em parceria com seu marido, Carlos Alberto Riccelli, 64, e seu filho, Kim Riccelli, 29.

 

O mais recente,”Onde Está a Felicidade?”, filmado na Espanha, estréia na sexta. É a história de uma chef de cozinha (Bruna) que está em crise e decide fazer o caminho de Santiago de Compostela com dois amigos. O longa tem Riccelli e Kim na direção. Mas a família não vive só de cinema: Kim está gravando um disco e Riccelli compôs a trilha do longa.

 

A repórter Fernanda Ezabella conversou com a família Lombardi Riccelli e mum café de comidas orgânicas no bairro Brentwood, perto da casa deles na cidade americana. Enquanto conversavam, Ricelli “roubou” pedaços de cookies da jornalista e Kim tomou um suco de frutas. Abaixo,um resumo dos diálogos.

CARLOS ALBERTO
RICCELLI

Folha – Como é o trabalho em família?
A gente discute bastante, mas é muito bom porque ninguém quer ganhar por causa de ego. O fim é o trabalho. Não gosto de impor. É porque nós queremos.

Vocês discutiam espiritualidade no set em Santiago de Compostela?
O caminho [de Santiago] e a presença constante de peregrinos que passam por lá trazem naturalmente à tona a espiritualidade, mas a nossa equipe espanhola pensava muito mais no vinho e no presunto “pata negra” do almoço [risada].

A Bruna faz uma chef em crise e o Kim, um peregrino. Que tipo de instruções dava a eles como diretor? Tivemos muitos ensaios na preparação do filme. Peço a eles o mesmo que a todos atores: simplicidade, leveza, quase uma não representação. Numa comédia, o ator não pode nunca querer ser engraçado.

O que vocês fazem juntos em Los Angeles que não fazem em São Paulo?
Caminhadas. Aqui a gente anda cinco minutos e já está no mato.

A Bruna ainda te surpreende?
O tempo inteiro. A Bruna é um sol. Ela vê tanta beleza na vida e traz isso pra gente. Tem espírito empreendedor. É uma locomotiva, no sentido de criatividade e de realizar projetos.

Como fazem para a relação durar tanto?
Nós temos um terapeuta [aponta para o Kim, rindo]. Mas não é brincadeira. Quando a gente briga, o Kim tem essa capacidade [de intermediar], conhece muito as relações.

Quem cozinha em casa?
A cozinha da nossa casa é um verdadeiro laboratório. O Kim é um experimentador. E essa cidade [Los Angeles] é perfeita, porque aqui tem de tudo. Eu sou mais clássico, adoro um tomate, uma pasta, uma coisa bem tradicional italiana. Já a Bruna é superinventiva.

“Quando a gente [ele e Bruna] briga, o Kim tem essa capacidade de intermediar, conhece muito as relações”
CARLOS ALBERTO RICCELLI
ator e diretor

“A gente sempre teve uma relação de conversar. Quando era pequeno, eu que dizia ‘está tarde, vou dormir'”
KIM RICCELLI
músico e diretor

BRUNA
LOMBARDI

Folha – Como seu marido e seu filho ajudam no trabalho?
Eles são fundamentais. Com eles é que eu troco ideias, mostro meus arquivos confidenciais [risada], os primeiros passos. Adoro dividir tudo com eles. Quando me apontam coisas que não curtem, algumas eu defendo, outras deleto. E eles fazem o mesmo comigo. A gente forma um forte time criativo. Eu e o Kim temos uma comunicação muito rápida, ‘vapt-vupt’. Eu e o Ri, muitas vezes, temos visões diferentes, mas objetivos parecidos. Às vezes ele vê de um ângulo que eu não tinha visto.

Férias em São Paulo ou em Los Angeles?
Férias é uma palavra que preciso incluir na minha vida. Muitas vezes passo por aqui como uma criança que passa pela Disneylândia e não pode ir em nenhum brinquedo, sabe?

Quem escolhe o filme para ver no final de semana?
Temos gostos parecidos. Uma diferença é que eu adoro desenho animado e o Ri não é muito chegado.

Que tipo de mãe você é?
Tento ser a pessoa mais abrangente que puder. Respeito a individualidade dele e estamos em pleno aprendizado, sempre. Agora, autoridade não tenho nem com meu cachorro.

Como Riccelli ainda te surpreende?
Um exemplo concreto: ele fez as músicas do filme e a primeira vez que ouvi, fiquei muito comovida. Ele é de uma extraordinária delicadeza comigo e está sempre ali. É uma criatura sólida.

“Ele [Riccelli] é de uma extraordinária delicadeza comigo e está sempre ali. É uma criatura sólida”
BRUNA LOMBARDI
atriz

KIM
RICCELLI

Folha – Você é diretor assistente deste filme e de “O Signo da Cidade” (2007), dirigidos por seu pai. O que mais aprendeu com ele?
Que fazer cinema requer dedicação total, é algo que ocupa todos os momentos da sua vida. Por isso, é muito importante escolher bem com quem vai trabalhar.

Vocês têm alguma regra interna para filmar em família?
As regras são iguais às da vida normal em família, respeito, empenho, paciência, organização e confiança um no outro. O set acaba sendo um excelente treinamento para a relação do dia a dia, pois a margem de erro durante uma filmagem tem que ser bem menor [risada]!

Com quem é mais parecido?
É uma mistura. Pelo lado intelectual, mais com a minha mãe. Pelo emocional, mais com meu pai.

Quem dava mais bronca?
Bronca mesmo eu levava era do meu avô. A gente sempre teve uma relação de conversar, eu e meus pais. Também criei responsabilidade muito cedo. Quando era pequeno, eu é quem dizia: “Está tarde, vou dormir”.

Um conselho do seu pai?
No cinema, sempre escute todo mundo. Pare e escute. Sou um pouco impulsivo. E ele fala: “Calma”. Nós dois [Kim e Bruna] aprendemos com ele.

E da sua mãe?
Meu jeito de lidar com todos os aspectos da vida é bastante ligado ao que ela me ensinou. Como administrar esse enorme fluxo de informações. Sou muito sonhador. Tenho mil ideias de projetos. Mas, para isso acontecer, é passo a passo. E nisso a Bruna é mestre.

fonte: Folha de Sp