SÃO PAULO – A nova tentativa de resolver questões sociais como casos de polícia fracassou no Rio, com a volta dos conflitos nos morros.
Criadas com alarde, as tais unidades de pacificação foram apresentadas como panaceia. No papel, seriam um marco de “recivilização”, simbolizando a retomada, pelo Estado, de áreas controladas pelo crime. Tudo com direito a hasteamento de bandeira, discursos inflamados e promessas de sempre.
Descoladas de qualquer programa social digno desse nome, as UPPs, no entanto, rapidamente se transformaram em meros postos policiais, com direito a todos os vícios destas repartições. Nesta semana, por exemplo, PMs supostamente pacificadores foram presos com uma dinheirama cuja origem não sabiam explicar.
Na falta de efetivos da PM, o Exército prolongou sua estadia nos morros e age como foi treinado: como força de ocupação. Os soldados atiram em civis à queima-roupa, por ora com balas de borracha, mas amanhã sabe-se lá com o quê. Toque de recolher virou rotina, assim como os tanques desfilando pelas ruas diante de civis entre esperançosos e, sobretudo, apavorados.
Sobressai a insistência do governo Cabral em vender a ideia de que a única alternativa aos criminosos é reforçar o aparato repressivo. Nem isso, aliás, tem sido feito. Pergunte quantos traficantes de verdade foram encarcerados desde que começou o frenesi pacificador. Os números serão desapontadores.
Como governante, Sérgio Cabral é um prodígio de ator. Só lhe falta crachá do Projac. Faz cara de paisagem ao misturar negócios públicos com jatos privados. Chama bombeiros de vândalos e depois pede desculpas ao perceber a gafe. Toma chá de sumiço quando um bonde estatal descarrila e mata seis, mas vai às lágrimas ao defender royalties para o Rio. Já viveu até seu momento Salim Curiati, quando defendeu esterilizar os pobres para combater a criminalidade.
Tente agora lembrar uma iniciativa social de peso de sua autoria. A memória vai ficar girando em falso.

 

Fonte: Folha de São Paulo