RODRIGO MATTOS
ENVIADO ESPECIAL A LONDRES

A Olimpíada volta hoje ao Velho Mundo. E, pelo menos pelas próximas duas semanas, a Inglaterra passa a ser de novo o centro do mundo.

Um mundo novo, com novas ideias e, principalmente, novos tipos de preocupação.

Começa em Londres, às 17h, a cerimônia de abertura da 30ª edição dos Jogos.

Sua sede, pela terceira vez, é a capital inglesa. Sua meta, inédita, é ser mais sustentável, mais integrada à cidade, menor, menos cara. Enfim, politicamente correta.

O COI (Comitê Olímpico Internacional) tenta descobrir como lidar com o expansionismo dos Jogos. “É a pergunta que está na nossa cabeça”, contou o diretor-geral da Olimpíada, Gilbert Felli.

Não é tarefa fácil. A estimativa de gasto em Londres é de cerca de R$ 32 bilhões, o quádruplo do valor inicial.

Há o custo à população: tráfego pesado, metrôs superlotados e moradores de bairros pobres despejados.

Tudo isso na cidade que mais recebe turistas no mundo. Há reclamações e ironias dos ingleses, típicas no país.

Mas também há os benefícios à população: a revitalização de parte da degradada área leste, uma nova linha de trem e a construção de casas.

Tudo entregue antecipadamente. Razão para o inglês se orgulhar da sua pontualidade, também típica do país.

O Estádio Olímpico ficou pronto um ano antes. E é ícone da meta sustentável, com assentos projetados para desmonte para reduzir gastos.

Parte das instalações deve ser repassada futuramente ao Rio de Janeiro, sede da Olimpíada seguinte, em 2016. Nova fronteira olímpica, o Brasil promete seguir Londres.

Não quer a opulência de Pequim, o expansionismo de Sydney ou os fortes interesses comerciais de Atlanta.

Nenhum dos quatro últimos palcos olímpicos repetiu o legado de Barcelona-1992. É o que Londres promete.

RUMOS

Se há novos rumos na organização olímpica, ainda é cedo para saber se isso ocorrerá nas disputas esportivas.

Sim, para além da política, serão os atletas o centro das atenções a partir de amanhã.

Como em Pequim, o corredor Usain Bolt e o nadador Michael Phelps são os astros. Mas não são mais imbatíveis.

O jamaicano pode se tornar o único a vencer os 100 m em dois Jogos. Mas perdeu as últimas corridas para o compatriota Yohan Blake.

O norte-americano pode se tornar o maior medalhista das Olimpíadas. Mas não vem de resultados tão bons e também tem como rival um atleta do seu país: Ryan Lochte.

Entre as equipes, a geografia do poder não muda: a disputa é entre China e EUA.

Quem aparece nos holofotes, de forma tímida, é o Brasil. A obrigação de organizar a Olimpíada se soma ao dever de resultados melhores.

A meta é de 15 pódios. Mas o projeto de superar as 41 finais de Pequim sinaliza para uma ambição maior no Rio.

Aí, de novo, a política e o esporte se misturam no sonho de potência do Brasil.

Por coincidência, é com o Reino Unido que o país disputa a posição de sexta economia do mundo atual.

Mas, hoje, Londres, capital da revolução industrial, prefere exibir 70 ovelhas na cerimônia de abertura para mostrar seu lado rural. Como manda o politicamente correto, promete-se que os bichos não sofrerão maus-tratos.