Leia entrevista com Fabio Moretzsohn, conferencista do VII CBUC, sobre a importância de o Brasil adotar medidas que reduzam os impactos à biodiversidade decorrentes da exploração de petróleo.

A exploração do pré-sal brasileiro requer o desenvolvimento de um plano emergencial preventivo de combate a possíveis acidentes em águas profundas, para proteger os ecossistemas oceânicos.

 

A análise é do biólogo Fabio Moretzsohn, Ph.D em Biodiversidade Marinha e cientista assistente de pesquisa doHarte Research Institute for Gulf of Mexico Studies, vinculado à Texas A&M University, dos Estados Unidos. Moretzsohn participará do VII Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação (VII CBUC), evento promovido pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e que acontecerá em Natal (RN), de 23 a 27 de setembro.

 

“O Brasil precisa ter planos desenvolvidos para a região, baseados em pesquisas detalhadas sobre a geologia e ecologia local”, afirma Moretzsohn, que vai abordar o tema “Riscos à biodiversidade pela exploração de petróleo em águas profundas e no pré-sal brasileiro”, na programação do dia 25 de setembro do VII CBUC.

 

Em sua apresentação, ele irá rever derramamentos de petróleo recentes (com ênfase no acidente ocorrido em 2010 na plataforma de Deepwater Horizon, no Golfo do México) e indicar as lições aprendidas para contribuir na preparação do Brasil.

 

Acompanhe abaixo trechos da entrevista que o pesquisador Moretzsohn concedeu à Fundação Grupo Boticário.

A exploração do pré-sal brasileiro é um tema polêmico. Qual é a sua avaliação?
Fabio Moretzsohn –
Se pudesse, gostaria de impedir a exploração de petróleo, especialmente em águas profundas devido aos riscos elevados. Porém, realisticamente, como há um enorme potencial econômico para o Brasil, com a criação de um grande número de empregos e lucros para as companhias envolvidas, sei que o pré-sal continuará a ser desenvolvido. Portanto, em termos práticos, é melhor buscar o desenvolvimento sustentável e fazer o que for possível para que o país esteja preparado para enfrentar um possível acidente.
Como o Brasil pode se preparar para evitar acidentes e amenizar possíveis prejuízos à biodiversidade marinha?
Moretzsohn –
A melhor forma para se preparar é a prevenção de acidentes. Mesmo com todo cuidado, acidentes acontecem. Por isso, é preciso ter um plano de ação preparado com cuidado, para que, no caso de acidente, sejam tomadas medidas de emergências desde o começo. Por exemplo, é necessário ter conhecimento sobre correntes marinhas, biota, alternativas para fechar o poço (o que é muito difícil devido à pressão do óleo saindo), etc.

 

O Brasil também precisa ter planos desenvolvidos para a região, baseados em pesquisas detalhadas sobre a geologia e ecologia local. Imagino que já exista um bom conhecimento da geologia (pois isso é importante para se encontrar o petróleo). Essas pesquisas permitem saber como as camadas de rochas, de sal, e as demais  estão arranjadas, e como atingir o poço por outro ângulo, caso seja preciso perfurar um poço de alívio.

 

É importante ainda ter equipamento apropriado para operar na profundidade, como os que as companhias petrolíferas do Golfo do México possuem, que incluem robôs submarinos capazes de chegar à profundidade do poço explorado.

 

Como aliar exploração do pré-sal com conservação da natureza?
Moretzsohn –
É preciso fazer estudos de impactos ambientais antes de se começar a exploração. Como a exploração já começou, imagino que tais estudos já tenham sido feitos. Porém, seria bom se a lei brasileira destinasse uma porção do dinheiro levantado com o pré-sal para a conservação da região. Mesmo uma pequena porcentagem já geraria um grande fundo para a conservação.

 

No entanto, na prática, não há muito que se possa fazer para proteger a biota de águas profundas, pois mesmo que se feche uma área à exploração, a poluição poderia vir de outro lugar. Por outro lado, é possível proteger e tomar certas precauções para a biota de águas rasas, especialmente no litoral, caso o óleo chegue até lá.

 

Parte do dinheiro gerado pela exploração deveria ser também investida no desenvolvimento de novas tecnologias tanto de remoção do óleo da superfície da água e do fundo do mar quanto de bloqueio da mancha de óleo para evitar que chegue às áreas mais sensíveis, como manguezais ou recifes de coral.

 

Fonte: www.itarget.com.br