A França expressou ansiedade quanto à busca do governo americano por um possível acordo sobre o programa nuclear do Irã e alertou que os EUA não deveriam permitir que Teerã expanda suas atividades de enriquecimento de urânio sem que isso acarrete novas sanções.

Enquanto as potências mundiais avaliam o resultado da importante reunião de anteontem em Genebra com o Irã, a atenção diplomática se volta à proposta de um acordo sob o qual o Irã poderia excluir cerca de 80% de sua produção de urânio de baixo enriquecimento de qualquer uso militar.

Sob os termos do acordo, o Irã transferiria a maior parte de seu estoque de urânio de baixo enriquecimento, avaliado em 1,5 tonelada, à Rússia e à França, onde ele seria processado na forma de combustível capaz de produzir isótopos médicos, dos quais o Irã precisa para uso em tratamentos de câncer.

Diplomatas americanos creem que isso seria importante para promover a confiança mútua, porque o Irã não poderia usar a maior parte de seu estoque de urânio para produzir uma bomba. No entanto, representantes do governo francês estão preocupados com as implicações de um acordo desse tipo. Embora aceitem que ele seria uma forma de criar confiança, insistem em que Teerã também deve prometer, até dezembro, que congelará a expansão do enriquecimento de urânio, sob pena de novas sanções.

“Não existe lógica alguma em remover o urânio de baixo enriquecimento do Irã se o país puder simplesmente continuar produzindo cem quilos do material por mês”, disse uma fonte no governo francês. “O Irã quer ganhar mais tempo e procura um acordo que ofereça legitimidade ao seu programa. Impor o congelamento é absolutamente essencial.”

Um funcionário do governo dos EUA reconheceu ontem que a proposta sobre o urânio de uso médico, que conta com a aprovação pessoal do presidente Barack Obama, “não é a solução para o programa nuclear iraniano”. Ele acrescentou que “é um primeiro passo, uma medida modesta para criar confiança. Não vamos caracterizá-la como nada mais ambicioso”.

Mas alguns diplomatas europeus acreditam que os EUA possam considerar em dezembro que há justificativa para continuar negociando com o Irã em 2010, o que implicaria em adiar as sanções.
“Caso o Irã aceite o acordo sobre os isótopos, haverá muito mais atividade internacional na usina [iraniana] de Natanz, e todos nos sentiremos muito mais relaxados”, disse um diplomata da União Europeia. “Por que precisaríamos de novas sanções, nesse caso?”

Em Teerã, funcionários iranianos elogiaram o resultado das conversações em Genebra como “vitória para todos os envolvidos”. Ali-Akbar Javanfekr, assessor do presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad, disse ao “Financial Times” que as posições de Reino Unido, França, Alemanha e EUA eram “mais lógicas e mais sábias” do que na rodada anterior de negociações, realizada em 2008.

“A proposta de fornecer ao Irã urânio enriquecido para propósitos médicos demonstra a abordagem positiva e construtiva dos europeus e dos EUA, que nada pediram ao Irã como contraparte.”

Financial Times
Folha de São Paulo