Em média, são 16 candidatos por vaga na disputa pelo cargo de vereador na capital; escândalo Cachoeira, que pegou o prefeito Raul Filho, vai atrapalhar a campanha para governistas e oposição

Os números ainda não totalmente fe­chados do Tribu­nal Regional Elei­toral (TRE-TO) mostram mais de 300 candidatos na briga pelas 19 cadeiras da Câmara de Palmas na eleição deste ano. Em média, são quase 16 nomes por vaga, com uma certeza: a chance maior pertence a 11 dos 12 ocupantes do cargo. Onze porque, com a cassação de José Damaso (PR), por ter mudado do PDT para o PR, assumiu a vaga a suplente Vânia Severo Vidal (PDT) que, na eleição de 2008, recebeu pouco mais de 400 votos. Pela lógica, a vantagem permanece com Damaso, que teve 2.504 votos.
A coligação “É a vez do povo”, do deputado Marcelo Lelis (PV), que tem como vice a suplente de vereador Cirlene Pugliesi (PMDB), tem 13 partidos e a chance de garantir oito cadeiras na Câmara. Hoje, con­ta com seis cadeiras,  uma do PSDB, uma do PMDB, uma do PSD, uma do DEM, uma do PTC e uma do PDT.

Na proporcional, o grupo formou as coligações “Frente da Renovação”, com PTB, PSL, PMN, PHS e PRB, com 38 candidatos; “A vez de Palmas”, com PSDB, PSD, PV e PMDB, também com 38 candidatos, e a “Frente Social Trabalhista”, com PSC, PTC e PDT, mais 38 candidatos. O Democratas preferiu não se coligar e sai com cinco candidatos: o vereador Fernando Rezende, a ex-vereadora Warner Pires e outras três mulheres.

A coligação da deputada Luana Ribeiro (PR) e do ex-reitor da Universidade Federal do Tocantins, Alan Barbiero (PSB) — “Coragem pra fazer” — reúne PR,  PTN, o PRTB, PPL, PT e PSB. Como a de Le­lis, tem seis vereadores, sem contar Damaso, que quer recuperar a cadeira perdida para Vânia Vidal.

Dizendo-se “terceira via”, aparece a coligação “Um novo caminho é possível, do empresário Carlos Amastha (PP), com o deputado Sargento Aragão (PPS), como vice. O outro partido do grupo é o PCdoB. Apresentou, também, o número máximo de candidato permitido — 38. Apesar do poderio econômico do candidato majoritário e de contar com três deputados estaduais (PPS) e um federal (PP), tem poucas chances de conseguir mas do que uma das 19 cadeiras da Câmara de Palmas. Aliás, o PCdoB, apesar da sua história no cenário nacional, no Tocantins nunca deslanchou. A última tentativa foi em 2006, com Leomar Quintanilha, hoje no PMDB, como candidato a governador.

Vale citar, ainda, que o PSol, com Abelardo como candidato a prefeito; PSDC, com o Professor Adail; PTdoB, com Fábio Ribeiro, e PRP, com o Doutor Luciano, também apresentaram candidatos a vereador, mas as chances de conquistarem uma vaga é quase nula numa eleição polarizada com a de Palmas.

O palanque eletrônico, que começa em 6 de agosto, não deverá ser muito favorável aos pretendentes a uma cadeira na Câmara Municipal. Com tantos candidatos, o tempo de cada um deverá ser de 10 segundos. A surpresa ficará por conta de um algum Enéas (“Meu nome é Enéas”!), porque não haverá disponibilidade para outro Tiririca.

Restará a eles a campanha de certa forma distrital, em seus redutos eleitorais, contando com santinhos e carros de som, além das participações nos palanques dos candidatos majoritários.

Por enquanto, a movimentação, tanto dos majoritários, quanto dos proporcionais, é tímida. Nas ruas, ainda não se ouvem os chatos e cansativos gingles de campanha nem os pedidos de voto, permitidos desde o dia 3. Na internet, menos de 1% está usando as redes sociais. Os poucos candidatos a vereador que recorrem a elas não têm tomado nenhum cuidado com o português, o que, em vez de conseguir apoio, afasta os eleitores, principalmente os das camadas com maior escolaridade.

Dizer o que o povo quer ouvir nem sempre vale na hora de conquistar o voto. A população, de uma maneira geral, está cansada do lenga-lenga das promessas não cumpridas.

Pior para o vereador, cuja função principal é legislar, mas, na cabeça do eleitor mais simples, o vereador serve para conseguir emprego para ele e para sua família e para lhe dar dinheiro para pagar água, luz, gás, etc. Claro que o vereador também apresenta centenas e centenas de requerimentos que, na maior parte do tempo, vão parar nas gavetas das mais diversas repartições públicas, sem que nenhuma satisfação lhe seja dada.

Se o candidato for do tipo que faz questão de manter a mentira, corre o risco de não atender às expectativas do eleitor menos informado e de continuar decepcionando os cidadãos mais sérios, conscientes e que, realmente, querem uma cidade melhor para viver.

Cachoeira

O caso do bicheiro Carlos Cachoeira, a conversa do prefeito Raul Filho (PT) com ele e todas as repercussões que colocaram Pal­mas no centro do cenário político nacional vão dar pano para manga nesta eleição. Muito político vai ter de explicar o crescimento de seu patrimônio individual e sua ligação com empresários que prestam serviço ao governo, seja ele municipal ou estadual.

Tem gente que vai passar a campanha dando explicações aos eleitores e desmentindo as fofocas espalhadas nas ruas pelo que hoje chamam de marketing viral.

Não acreditam que será uma campanha limpa. Pelo contrário: a sujeira vai continuar saindo de baixo do tapete e se espalhando pela ruas de Palmas e de outras cidades do Brasil. Nenhum político estará imune a ela, nem mesmo os “ficha limpa”, com contas aprovadas pelos Tribunais de Contas do Estado e da União e sem condenações na Justiça.

Por falar nisso, as listas do TCE-TO e do TCU são outro complicador na vida dos pretendentes a uma cadeira na Câmara e até mesmo ao cargo de prefeito. Se o nome esteve lá, mesmo que seja retirado depois, há o risco de o eleitor ter visto e já não querer dar o seu voto. Sem dúvida, será uma eleição difícil para todos, eleitores e políticos.

2014

Claro que todos estão de olho em 2014! As eleições municipais são a base da es­colha dos futuros governadores, deputados, senadores e presidente da República. Pou­cos estão saindo candidatos este ano sem um “padrinho” político a quem terá de apoiar em 2014.

É assim na majoritária e é assim na proporcional. Lelis, candidato do Palácio Araguaia, se vencer, em 2014 terá de pagar a fatura, dando o seu aval ao escolhidos pelo governador Siqueira Campos (PSDB) para substituí-lo.

Provavelmente,  o secretário das Relações Ins­titucionais e ex-senador Edu­ardo Siqueira Campos.
Difícil será a situação do PMDB que, de aliado, talvez tenha de passar a adversário, já que Marcelo Miranda e Car­los Gaguim também fa­zem parte da lista dos possíveis candidatos.

Luana, embora diga que não, terá compromisso com seu pai, senador João Ribeiro, postulante ao Palácio Ara­guaia, e com o prefeito Raul Filho (PT), que pode sair candidato ao Senado.

Tem ainda o empresário Amastha que, se aprender a falar português sem sotaque, pode até emplacar uma cadeira no Legislativo estadual, antes de tentar alçar outros voos executivos.

Os vereadores eleitos este ano, queiram ou não, vão ter de trabalhar para os seus padrinhos que querem ir ou se manter na Assembleia, na Câmara dos Deputados ou no Senado.

Assim que a campanha começar, já vai dar para ver, com clareza, quem é quem em 2014 que, de distante, não tem absolutamente nada.

Célia Bretas Tahan