ADRIANO PIRES
ESPECIAL PARA A FOLHA
Um exemplo interessante do uso do gás natural como combustível em paralelo às energias renováveis é a tecnologia do Ciclo Combinado com Energia Solar Integrada (Integrated Solar Combined Cycle – ISCC).
O ISCC tem por meta aproveitar os benefícios ambientais da energia solar junto com as vantagens operacionais da turbina a gás natural “convencional” combinada com as turbinas a vapor numa usina de ciclo combinado. O recurso solar substitui parcialmente o com- bustível fóssil.
Em uma usina de ciclo combinado, os gases expelidos das turbinas, em altas temperaturas, são direcionados para um recuperador de calor para geração de vapor, onde o vapor em alta pressão movimenta uma turbina.
Nas instalações ISCC, a energia térmica adicional proveniente dos coletores solares é injetada no Recuperador de Calor para Geração de Vapor (Heat Recovery Steam Generator – HRSG) de uma central de ciclo combinado convencional.
Isso aumenta a produção de vapor e, consequentemente, a produção de energia elétrica. Potencialmente, permite ainda que a Energia Solar Concentrada (Concentrated Solar Power – CSP) seja integrada às usinas termelétricas a combustíveis fósseis convencionais por um custo relativamente baixo.
REQUISITOS
Enquanto a tecnologia é relativamente simples, a instalação de usinas solares de ciclo combinado exige determinados requisitos, como a necessidade de uma grande área e topografia adequada.
Como em qualquer instalação solar, a incidência de raios solares deve ser máxima, e há também a exigência de água para o resfriamento.
Entretanto, a exigência fundamental é que haja disponibilidade de infraestrutura adequada para o transporte da eletricidade até os centros consumidores.
O ISCC oferece algumas vantagens exclusivas para serviços de utilidade pública e para outros interesses no fornecimento de energia.
A eletricidade obtida a partir da tecnologia CSP é gerada exatamente como a eletricidade convencional. Mas a energia solar é usada para fornecer calor para as caldeiras, em vez da queima de combustíveis fósseis.
Devido ao crescente uso de ar-condicionado, em algumas regiões do hemisfério norte o pico da demanda por energia elétrica tem sido muito maior durante os verões do que no inverno.
Então, as unidades CSP são capazes de entregar sua potência máxima durante esses horários de pico.
Além disso, embora a atual geração de instalações ISCC não tenha incluído a capacidade de armazenamento térmico, essa tecnologia permite às CSP estender seu intervalo de funcionamento.
A primeira usina ISCC está sendo construída no Marrocos. Com capacidade instalada de 470 MW, a usina está em desenvolvimento pela estatal marroquina Office National de l’Electricité (ONE).
O componente solar fornecerá 20 MW, deixando cerca de 450 MW provenientes da usina térmica convencional, ou uma produção anual líquida esperada de 3,538 GWh por ano.
A atividade solar é estimada em 1,13% da produção anual, ou cerca de 40 GWh. A instalação possui um campo de 180 mil m2, com 224 conjuntos de coletores solares.
ADRIANO PIRES é diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).
fonte: Folha de São Paulo