Ganhos quadruplicam no 1º trimestre; executivo diz que governo e empresa têm “missões” e “prazos” diferentes
Agnelli sai da direção da Vale no dia 21, após atritos com governo petista, que pressionou por sua demissão
PEDRO SOARES
DO RIO
Os altos preços do minério de ferro e do níquel e a conclusão da venda de ativos de alumínio à norueguesa Norsk Hydro asseguram à Vale mais um lucro recorde.
A companhia ganhou R$ 11,291 bilhões nos três primeiros meses de 2011 -alta de 12,9% ante o quarto trimestre de 2010 e de 292% em relação ao primeiro trimestre do ano passado.
De janeiro a março, o faturamento alcançou R$ 23,6 bilhões -queda de 12,6% ante o quarto trimestre. Mas é recorde para o primeiro trimestre -avanço de 81% ante igual período de 2010.
Segundo analistas, a Vale obteve um bom desempenho mesmo com o lucro extraordinário gerado pela transação de US$ 5,9 bilhões com a Norsk Hydro. A companhia conseguiu elevar suas vendas de minério de ferro, em volume, em 2,7% ante o primeiro trimestre de 2010, apesar das excessivas chuvas que pararam o escoamento do minério de Carajás (PA).
Ontem, Roger Agnelli, que será substituído na direção da Vale por Murilo Ferreira, disse que governo e empresa têm “missões” e “prazos” diferentes. Mas afirmou “entender” a posição do ex-presidente Lula de cobrar mais compras no país -o que nem sempre, diz, é possível, dado o custo alto em alguns casos.
“Cada um tem uma visão e uma missão. A missão da companhia é gerar os resultados para ela poder gerar capacidade e investimentos. A missão do governo é diferente da de uma empresa. Completamente diferente.”
O executivo deixa o cargo no dia 21, desgastado com o governo petista, que pressionou por sua saída.
Um dos pontos de atrito com Lula foi a encomenda de 19 navios cargueiros de grande porte na China e na Coreia, e não no Brasil. O primeiro foi entregue ontem. Cada um sairá por US$ 120 milhões. No Brasil, o valor saltaria para US$ 236 milhões, segundo a Vale.
A empresa visa reduzir o frete com o carregamento de volumes maiores de minério nos novos navios e, assim, compensar a vantagem competitiva da BHP e da Rio Tinto, mais próximas da China.
Fonte: Folha de S. Paulo