SIM

É hora de a presidente entrar em campo

JOSÉ ROBERTO BERNASCONI

O Brasil foi escolhido pela Fifa como sede da Copa do Mundo de futebol de 2014, decisão anunciada em outubro de 2007, em Zurique, em cerimônia da qual participaram o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, 12 governadores de Estado, representantes de ministérios e do Senado e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira.
Desde essa data, já decorreu longo tempo -quase três anos e seis meses. Estamos na metade do prazo, mas longe de termos concluído a metade das obras necessárias à realização da Copa e para deixar legado positivo para a sociedade.
Não é boa a radiografia atual das obras da Copa de 2014.
Boa parte das obras de infraestrutura geral ainda não deslanchou; quanto aos estádios, há situações muito preocupantes, como as de Natal e São Paulo. A maior cidade do país é a única que hoje reúne os requisitos e está predefinida para sediar o jogo de abertura da Copa, mas patina na construção do estádio com capacidade e condições para essa abertura.
Lembramos que o compromisso de realizar bem a Copa de 2014 foi assumido, em nome do país, pela autoridade máxima brasileira, o ex-presidente Lula. É, assim, compromisso de Estado para com a Fifa, com o Brasil e os demais países.
Ao assumir a Presidência da República, Dilma tornou-se a fiadora desse compromisso firmado pelo seu antecessor em nome do país.
Presidente Dilma: a senhora é a única pessoa com poder decisório e de mobilizar recursos, legitimidade e autoridade em relação aos demais ocupantes de cargos públicos envolvidos com a preparação do Brasil para a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro.
É, por isso, quem pode cobrar celeridade no desenvolvimento de bons projetos executivos de arquitetura e engenharia, que contemplam as melhores opções técnico-econômicas e definem, entre outros, os cronogramas e os custos das obras. Os projetos executivos permitem aos administradores o total controle do andamento das obras, afastando improvisações e sobrepreços comuns em empreendimentos públicos.
Sem essa cobrança dos responsáveis por parte da Presidência da República, corremos cada vez mais o risco de os eventos de 2014 e de 2016 repetirem o de 2007.
Não pode ser esquecida a lição dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro -quando obras orçadas inicialmente em R$ 400 milhões transformaram-se em fantásticos R$ 3,7 bilhões e, pior, gerando só alguns “”elefantes brancos” e nenhuma melhoria na infraestrutura.
Isso porque faltaram planejamento, projetos executivos e gestão eficiente das obras do Pan-2007.
Estamos na metade do prazo para a Copa de 2014, e restam cinco anos para a Olimpíada de 2016.
Ainda podemos ter obras de qualidade, a custos adequados e no prazo exigido, desde que a senhora, presidente Dilma, exercite a sua liderança para que sejam desenvolvidos bons projetos e obras para estádios, aeroportos, portos, saneamento e mobilidade urbana, entre outros, e para que o país tenha um legado pós-eventos.

JOSÉ ROBERTO BERNASCONI, engenheiro civil formado pela USP, é presidente da regional São Paulo e coordenador dos assuntos da Copa do Sinaenco (Sindicato da Arquitetura e Engenharia).

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Fonte: Folha de São Paulo